O Natal hoje é a festa cristã mais difundida por todo o mundo, apesar dos elementos cristãos desta festa nem sempre estarem tão presentes. O Natal se tornou uma festa onde as pessoas estão mais solidárias, onde a vontade de se reunir a família é maior, onde os presentes são importantes... Ela se tornou uma data principalmente comercial.
Mas ainda há aquele toque cristão, que nos faz lembrar do nascimento do Salvador, nosso Senhor Jesus Cristo. Foi este o motivo que manteve a festa viva por várias gerações. E muitos ainda lutam para manter esta festa como uma festa cristã.
Por outro lado, há muitos que visam mostrar que a festa não é realmente cristã. Estes pretendem demonstrar que o Natal na verdade é uma festa pagã, que foi cristianizada para sobreviver. Entre os primeiros que fizeram esta relação estão Paul Ernst Jablonski, um protestante alemão, e o monge beneditino Dom Jean Hardouin, apesar deste último estar demonstrando que a intenção da igreja não era paganizar o evangelho1.
Hoje em dia muitos fazem esta acusação, entre eles as testemunhas de Jeová. Até o bispo Edir Macedo2, da igreja Universal do Reino de Deus fez tal acusação. Resta-nos investigar tais acusações e verificar se elas estão corretas.
Substituição de uma festividade pagã
A idéia mais difundida sobre o Natal é que a data de 25 de dezembro apresentava um problema para a igreja. Vários cristãos estariam acostumados a celebrar as festividades pagãs da data, e se recusavam a abandoná-las. As autoridades eclesiásticas, não tendo outra opção, tiveram que criar uma festividade paralela à data, trazendo antigos cristãos para uma comemoração igual, mas cristianizada. A Torre de Vigia, por exemplo, diz em seu site:
A Enciclopedia Hispánica também observa: "A data de 25 de dezembro para a celebração do Natal não resultou de cálculos precisos do nascimento de Jesus, mas de dar caráter cristão às festividades do solstício do inverno, que eram celebradas em Roma." De que maneira os romanos celebravam o nascer do sol no céu do inverno? Com festanças e troca de presentes. Visto que as autoridades da igreja relutavam em acabar com algo tão popular, elas deram um caráter cristão à celebração por chamá-la de nascimento de Jesus, em vez de nascimento do sol.
No início, no quarto e quinto séculos, não foi fácil as pessoas abandonarem a adoração do sol e de seus costumes. O católico "Santo" Agostinho (354-430 EC) sentiu-se na obrigação de aconselhar os crentes a não celebrar o 25 de dezembro assim como os pagãos faziam em honra ao sol. Até mesmo hoje, os costumes das antigas festividades romanas ainda parecem exercer grande influência.3
Desta forma, o que se sugere é que os cristãos convertidos naquela época, de um modo geral, não possuíam o compromisso com a religião cristã que deveria-se esperar. Este tipo de argumento porém, ignora que durante os primeiros três séculos de cristianismo, os cristãos foram perseguidos principalmente por causa de sua conduta diante dos costumes pagãos da época. Basta analisar os documentos antigos para verificarmos que os cristãos, longe de se deleitar em festividades pagãs, eram desprezados por não participar de nenhum costume onde havia o mínimo traço de paganismo. Assim, já em uma das primeiras citações sobre os cristãos, encontramos o historiador romano Tácito se referindo a eles:
Apesar de todos os esforços humanos, da liberalidade do imperador e dos sacrifícios oferecidos aos deuses, nada bastava para apartar as suspeitas nem para destruir a crença de que o fogo havia sido ordenado. Portanto, para destruir este rumor, Nero fez aparecer como culpados os cristãos, uma gente odiada por todos por suas abominações, e os castigou com mui refinada crueldade. Cristo, de quem tomam o nome, foi executado por Pôncio Pilatos durante o reinado de Tibério. Detida por um instante, esta superstição daninha apareceu de novo, não somente na Judéia, onde estava a raiz do mal, mas também em Roma, esse lugar onde se narra e encontram seguidores todas as coisas atrozes e abomináveis que chegam desde todos os rincões do mundo. Portanto, primeiro foram presos os que confessaram (ser cristãos), e baseadas nas provas que eles deram foi condenada uma grande multidão, ainda que não os condenaram tanto pelo incêndio mas sim pelo seu ódio à raça humana. (Anais, 15:44).4
A expressão "ódio à raça humana" é explicada pelo historiador eclesiástico, Justo González:
Estas palavras de Tácito são valiosíssimas, pois constituem um dos mais antigos testemunhos que chegaram até nossos dias do modo em que os pagãos viam os cristãos. Ao ler estas linhas, torna-se claro que Tácito não cria que os verdadeiros culpados de terem incendiado a Roma fossem os cristãos. Ainda mais, a "refinada crueldade" de Nero não recebe sua aprovação. Mas, ao mesmo tempo, este bom romano, pessoa culta e distinta em sua época, crê muito daquilo que dizem os rumores acerca das "abominações" dos cristãos, e de seu "ódio pela raça humana". Tácito e seus contemporâneos não nos dizem em que consistiam estas "abominações" que supostamente praticavam os cristãos. Teremos que esperar até o século segundo para encontrar documentos em que se descrevem esses rumores maliciosos. Mas seja o que for, o fato é que Tácito crê nesses rumores, e pensa que os cristãos odeiam a humanidade. Isto se compreende se recordarmos que todas as atividades da época - o teatro, o exército, as letras, os esportes, etc. - estavam tão ligadas ao culto pagão que os cristãos se viam obrigados a se ausentarem delas. Portanto, diante dos olhos de um pagão que amava sua cultura e sua sociedade, os cristãos pareciam ser misantropos que odiavam toda a raça humana.5
Como os cristãos não participavam de nada que possuísse veneração aos deuses pagãos, os antigos romanos passaram a acreditar que os cristãos eram ateus. São várias defesas de cristãos contra estas acusações, como por exemplo a de Justino Mártir, que viveu até o ano de 164 d.C.:
Conseqüentemente somos chamados de ateus. E nós confessamos que somos ateus, enquanto deuses desta sorte são a referência, mas não em respeito ao mais verdadeiro Deus, o Pai da justiça e temperança e outras virtudes, que é livre de toda impureza. Mas tanto Ele, e o Filho (que procede d'Ele e nos ensinou estas coisas, e a hoste de outros bons anjos que o seguem e são feitos como ele), e o Espírito profético, nós cultuamos e adoramos, conhecendo eles em razão e verdade, e declarando sem rancor a cada um que deseja aprender, como nós fomos ensinados.6
Como pode ser visto, havia uma certa pressão por parte dos pagãos, em fazer com que cristãos adorassem seus deuses. Como os cristãos se recusavam a isto, eram considerados ateus. Isto obrigou Justino a dizer que eram de fato ateus, mas com relação aos deuses pagãos. Mas os cristãos tinham um Deus. Mais adiante, Justino ainda refutando a acusação de ateísmo, diz:
Em primeiro lugar [nós fornecemos prova], porque, apesar de dizermos coisas similares ao que os gregos dizem, nós somente somos odiados por causa do nome de Cristo, e apesar de não fazermos nada errado, somos condenados à morte como pecadores; outros homens em outros lugares adorando árvores e rios, e ratos e gatos e crocodilos, e muitos animais irracionais. Nem todos animais são considerados por todos; mas em um lugar um é adorado, e em outro outro, de forma que todos são profanos no julgamento uns dos outros, por não adorarem os mesmos objetos. E esta é a única acusação que vocês trazem contra nós, que nós não reverenciamos os mesmos deuses que vocês, nem oferecemos aos mortos libações e o sabor da gordura, e coroas para suas estátuas, e sacrifícios. Pois vocês muito bem sabem que os mesmos animais são com alguns venerados deuses, com outros animais selvagens, e com outras vítimas sacrificiais.7
Assim, Justino ao responder aos pagãos sobre a acusação de ateísmo, mostra por que eram assim considerados. Eles não costumavam participar de várias práticas comuns a eles, como adoração a deuses pagãos, oferta de coroas às imagens destes deuses, ofertas de sacrifícios. Seria muito difícil imaginar que cristãos que negassem fazer este tipo de coisas, sendo assim chamados de ateus e perseguidos por isto, fossem participar de festas pagãs, cujo objetivo era justamente honrar deuses dos pagãos. Seria muito mais difícil imaginar estes mesmos cristãos incluindo estes festivais em seus rituais, já que recusavam qualquer relação com o paganismo. Justino, por exemplo, ao relatar como os cristãos abandonaram o culto pagão, diz:
E segundo, porque nós - que, dentre toda a raça de homens costumávamos adorar Baco o filho de Semele, e Apolo o filho de Latona ( que em suas paixões com homens fizeram tais coisas que é vergonhoso até dizer), e Proserpine e Venus (que foram enlouquecidos com amor de Adonis, e cujos mistérios vocês também celebram), ou Æsculapius, ou algum ou outro daqueles chamado deuses - temos agora, através de Jesus Cristo, aprendido a desprezar estes, apesar de sermos ameaçados com morte por isto, e temos nos dedicado ao não criado e impossível Deus; de quem nós somos persuadidos que nunca foi incitado pela concupiscência de Antiope, ou outra mulher, ou de Ganymede, ou foi resgatado por aquele gigante de cem mãos cuja ajuda foi obtida por Thetis, nem estava ansioso sobre o fato de que seu filho Aquiles deveria destruir muitos dos gregos por causa de sua concubina Briseis. Aqueles que acreditam nestas coisas temos pena, e aqueles que inventaram elas nós sabemos que são demônios.8
Justino aqui diz claramente que as ameaças de morte que sofriam aconteciam por que eles desprezavam os deuses pagãos. Mas se cristãos estivessem participando de festivais pagãos nesta época, cujo motivo principal era dar honras aos deuses, a declaração de Justino acima não faria sentido algum. Em primeiro lugar, por que os cristãos seriam acusados de serem ateus, se eles participam das festividades pagãs? Segundo, como um apologista cristão, escrevendo para pagãos para defender o cristianismo, poderia dizer que os cristãos desprezam os ídolos pagãos, se eles de fato não faziam isto? Justino não teria crédito nenhum para defender o cristianismo.
O mesmo pode ser visto do ponto de vista dos pagãos. Por exemplo, Plínio, governador da província romana de Bitínia, no ano de 112 d.C., escreveu uma carta ao imperador Romano, Trajano, procurando saber exatamente qual seria o crime dos cristãos. A descrição abaixo faz parte desta carta, e descreve muito bem como, aos olhos de um romano, as cidades estavam ficando com a diminuição dos cristãos:
Esta superstição contagiou não apenas as cidades, mas as aldeias e até as estâncias rurais. Contudo, o mal ainda pode ser contido e vencido. Sem dúvida os templos que estavam quase desertos são novamente frequentados; os ritos sagrados há muito negligenciados, celebram-se de novo; vítimas para sacrifícios estão sendo vendidas por toda a parte, ao passo que, até recentemente, raramente um comprador era encontrado. Esses indícios permitem esperar que legiões de homens sejam susceptíveis de emenda, desde que tenham a oportunidade de se retratar.9
Observem como Plínio descreve que os templos antes desertos, agora são novamente frequentados, os ritos novamente celebrados e vítimas de sacrifícios estavam sendo vendidas novamente. Para Plínio, o retorno dos costumes pagãos era um indício de que o cristianismo estava diminuindo. Isto confirma o que estamos defendendo: que os cristãos, ao contrário do que se defende, evitavam qualquer participação em cultos pagãos.
Talvez poderia se dizer que até o ano de 164 d.C., o cristianismo não havia se contaminado ainda, mas que era esperado que ele se contaminasse. Tal é o teor de outra argumentação sustentada pela Torre de Vigia:
Os primitivos cristãos resistiam à tentação de participar nas festividades pagãs dos seus contemporâneos. Mas, a Bíblia predizia que, com o tempo, se desenvolveria entre os cristãos uma grande apostasia. (Atos 20:29, 30; 2 Tessalonicenses 2:3; 1 Timóteo 4:1-3; 2 Pedro 2:1, 2) Perto do fim do segundo século, o escritor Tertuliano teve de censurar "cristãos" por participarem nas "festividades de Saturno, e de janeiro, e do solstício do inverno". Ele menciona o "dar presentes" e expressa surpresa de que muitos estavam decorando seus lares com "lâmpadas e lauréis".
Apesar de tal admoestação, a original e pura congregação cristã foi corrompida. Indo de mal a pior, os cristãos apóstatas justificaram seu proceder por dar às celebrações pagãs um nome "cristão". Conforme admite o livro Natal (em inglês): "A Igreja Cristã . . . achou conveniente, no quarto século, adotar o sagrado dia pagão de 25 de dezembro, o solstício de inverno . . . A data do nascimento do sol tornou-se a data do nascimento do Filho de Deus."10
Aqui, alega-se que a participação cristã em festas pagãs foi crescendo com o tempo, de modo que Tertuliano (155-220 d.C) já combatia tais práticas. No entanto, buscando as citações dadas, encontramos uma situação bem diferente. Tertuliano, por exemplo, quando fala de lâmpadas e lauréis, diz:
Esta é a razão, então, porque cristãos são contados como inimigos públicos: que eles pagam nenhuma vã, nem falsa nem tola honra ao imperador; que, como homens acreditando na religião verdadeira, eles preferem celebrar seus dias festivos com boa consciência, ao invés de celebrar com a comum lascívia. É, em verdade, uma notável reverência trazer fogos e sofás perante o público, para ter festas de rua em rua, para transformar a cidade em uma grande taverna, para fazer lama com vinho, para correr em tropas para atos de violência, para atos de vergonha a atrações lascivas! O que é alegria pública manifesada pela desgraça pública? Coisas impróprias em outros tempos convêem nos dias de festas dos príncipes? Aqueles que observam as regras de virtude em reverência a César, em seu favor se voltam as costas a elas? Deve a piedade ser licença para atos imorais, e deve a religião ser tida como permitindo a ocasião de todas as sediciosas extravagâncias? Pobres de nós, merecedores de todas as condenações! Pois por que nós mantemos os dias votivos e altos júbilos em honra a César com caridade, sobriedade e virtude? Por que, no dia de alegria, nós não cobrimos nossos umbrais com lauréis, nem adentramos o dia com lâmpadas? É algo próprio, no chamado de uma festividade pública, de arrumar suas casas como algum novo bordel. Contudo, em matéria desta homenagem a uma majestade menor, em referência a qual nós somos acusados de um menor sacrilégio, porque nós não celebramos juntos convosco os feriados dos Césares em uma maneira parecida proibida pela modéstia, decência e pureza - em verdade elas antes têm sido estabelecidas como oportunidades permissivas para libertinagem do que qualquer motivo justo; - nesta matéria eu estou ansioso a apontar quão fiéis e verdadeiros vocês são, a fim de que não talvez aqui também aqueles que não nos conta como romanos, mas inimigos dos governantes de Roma, sejam eles próprios considerados piores que nós, perdidos cristãos!11
O que vimos acima não é um Tertuliano apresentando surpresa ao saber que muitos (subentende-se cristãos) estivessem decorando suas casas com lâmpadas e lauréis, mas que os cristãos exatamente não faziam aquilo, ao contrário dos pagãos ao honrar imperadores. Além disto, Tertuliano não está, neste trecho, falando de festivais pagãos de inverno, mas de dias dedicados à honra dos imperadores.
Analisando a questão de que Tertuliano censurou cristãos por comemorar festivais pagãos de Saturno, de janeiro e do solstício do inverno, a passagem abaixo parece ser a referência da Torre:
Adicionalmente, nós devemos investigar como se fôssemos mestres escolares dedicados; e não somente como eles, mas também como todos os outros professores de literatura. Não, pelo contrário, nós não devemos duvidar que eles estão em afinidade com a mais desbragada idolatria: primeiro, que é necessário para eles que preguem sobre os deuses das nações, a fim de expressar os seus nomes, genealogias, distinções honorárias, coletivas e singulares; e ainda para observar as solenidades e festivais dos mesmos, já que por esses meios eles computam seus lucros. Qual mestre, sem uma tabela de sete ídolos, freqüentaria a Quinquatria? O primeiro pagamento de qualquer aluno ele consagra à honra e ao nome de Minerva; assim, mesmo que ele não tenha sido informado sobre "comer daquilo que é sacrificado aos ídolos" nominalmente (não sendo dedicado particularmente a nenhum ídolo), ele é evitado como um idólatra. A que falta de contaminação ele pode recorrer nesta área, do que um negócio que, tanto nominal como virtualmente, é consagrado publicamente a um ídolo? A Minervalia é basicamente Minerva, assim como a Saturnália, Saturno; e é Saturno que deve ser necessariamente celebrado, inclusive pelos pequenos escravos na época da Saturnália. Presentes de Ano Novo devem ser aceitos, e o Septimontium guardado; e todos os presentes do Meio-Inverno e a Festa do Querido Parentesco devem ser auferidos.; as escolas devem ser adornadas com flores; o sacrifício às viúvas dos sacerdotes e vereadores; a escola é homenageada nos dias santos apontados. A mesma coisa acontece no dia do aniversário do ídolo; toda pompa do demônio é freqüentada. Quem pensará que essas coisas são adequadas a um mestre cristão, a não ser que seja ele quem as considere adequadas a alguém que não é um mestre?12
No trecho acima, Tertuliano descreve as ações dos mestres pagãos. Observem que no final, Tertuliano deixa claro que estas atitudes não poderiam ser adequadas a mestres cristãos.
Na verdade, o que podemos encontrar nas obras de Tertuliano, é uma defesa que ele faz dos cristãos, dizendo que o fato dos cristãos não participarem dos festivais pagãos como a Saturnália, não os fazem inúteis, como estavam sendo acusados antes:
Entretanto, nós somos chamados a acertar as contas como fazedores do mal em outra área, e somos acusados de sermos inúteis para os negócios da vida. Como, em todo o mundo, pode ser o caso com pessoas que estão vivendo entre vocês, comendo a mesma comida, vestindo as mesmas roupas, tendo os mesmos hábitos, debaixo das mesmas necessidades de existência? Nós não somos Brahmistas indianos ou Gimnosofistas, que moram nos bosques e se exilam da vida humana comum. Nós não nos esquecemos da dívida de gratidão que temos para com Deus, nosso Senhor e Criador; nós não rejeitamos nenhuma criatura das Suas mãos, embora certamente nós exercitemos alguma restrição sobre nós mesmos, que jamais façamos uso imoderado ou pecaminoso de qualquer dom que dEle tenhamos. Assim, nós peregrinamos com vocês no mundo, não abjurando nenhum fórum, nem andar como mendigos, nem banho, nem tendas ou oficinas, nem hospedarias ou idas semanais ao mercado, ou a qualquer outro lugar de comércio. Nós navegamos com vocês, e lutamos com vocês, e cultivamos a terra com vocês; e da mesma maneira nós nos unimos a vocês em seus negócios - mesmo nas várias artes que nós fazemos pública a propriedade dos nossos trabalhos para o benefício de vocês. Como é isto de nós parecermos inúteis nos seus negócios ordinários, vivendo com vocês e perto de vocês como fazemos, eu não consigo entender. Mas se eu não freqüento as suas cerimônias religiosas, mesmo assim eu sou um homem num dia sagrado. Eu não vou à Saturnália para me banhar ao amanhecer, para que eu não perca tanto o dia como a noite; ou seja, eu tomo banho numa hora decente e saudável, o que me preserva tanto no calor como no sangue. Eu posso ser rígido e pálido como vocês após as abluções quando eu estiver morto. Eu não me reclino em público na festa de Baco, seguindo os modos dos lutadores de feras no seu banquete final. Ainda que eu participe dos seus recursos, onde é que eu tenha chance de comer. Eu não compro uma coroa para a minha cabeça. O que lhes importa se eu uso essas coisas se, de qualquer maneira, as flores são compradas? Eu acho que é mais agradável tê-las livres e soltas, balançando ao sabor do vento. Mesmo que elas sejam tecidas numa coroa, nós cheiramos a coroa com as nossas narinas: deixe que observem isso aqueles que sentem o perfume com o seu cabelo. Nós não vamos aos espetáculos deles, ainda que, se necessitemos dos artigos que são vendidos lá, nós os obteremos mais facilmente nos seus lugares próprios. Nós certamente não compramos nardo. Se os árabes reclamam disso, deixem que os sabeus sejam assegurados de que a sua mais preciosa e custosa mercadoria é gasta tão largamente no sepultamento dos cristãos como na fumigação dos deuses. Sob qualquer ângulo, vocês dizem, as receitas do templo estão caindo cada dia mais: quão poucos lançam lá uma contribuição agora! Em verdade, nós não somos capazes de dar esmolas tanto aos mendigos celestiais como humanos; não que nós pensemos que somos ordenados a fazer isso mas por aqueles que o pedem. Deixem Júpiter, então, estender a sua mão e consegui-lo, pois a nossa compaixão gasta mais nas ruas do que a deles nos templos. Mas as suas outras taxas deveriam reconhecer uma dívida de gratidão para com os cristãos; pois é devido à fidelidade que nos previne de fraudar um irmão que nós temos a consciência de pagar todas as suas obrigações, por termos descoberto o quanto é perdido por fraude e falsidade nas declarações censitárias - o cálculo pode ser feito facilmente - deveria ser visto que a quantidade de reclamações em um departamento de receitas é compensado pela vantagem derivada de outros.13
Observem acima, como Tertuliano não só diz que os cristãos não participavam de festas e festivais pagãos. Tertuliano mostra que os cristãos agiam normalmente em dias sagrados. Mesmo que o dia sagrado exigisse um banho como cerimônia, o cristão tomava seu banho não por causa do dia sagrado, mas por que ele quer fazer isto.
Outros escritores que viveram na mesma época confirmam o que Tertuliano diz: que os cristãos não participavam de tais festejos. Entre eles, podemos citar Ireneu de Lião (?-220 d.C.), que descrevendo a atitude de alguns gnósticos, critica-os, dizendo:
Por isso, entre eles, os perfeitos praticam sem escrúpulos todas aquelas obras proibidas das quais as Escrituras afirmam: quem pratica essas obras não herdará o reino de Deus. Comem indiferentemente as carnes sacrificadas aos ídolos porque pensam não ser inquinados por elas e em toda festa pagã são os primeiros a misturar-se aos festejos dos ídolos, nem se abstém de espetáculos sanguinários, odiosos a Deus e aos homens.14
Observem como a crítica de Ireneu, aqui direcionada aos gnósticos, é exatamente sobre o fato de que eles são os primeiros a participarem dos festivais pagãos. Para o gnóstico, isto não tinha problema algum, já que o gnosticismo é naturalmente sincretista. Mas para o cristão, a opinião é aquela expressa por Ireneu: que tais obras eram proibidas. Imaginem agora se os cristãos frequentassem festivais pagãos. Poderia Ireneu criticar os gnósticos sobre isto, quando os cristãos de quem ele era bispo também praticavam tais coisas?
Por volta do ano de 180, outro escritor cristão chamado Teófilo escreveu uma apologia endereçada a Autólico, onde ele condenava também os espetáculos romanos:
Considere, então, se aqueles que ensinam tais coisas podem possivelmente viver indiferentemente, e ser misturados em um intercurso sem lei, ou, mais ímpio de todos, comer carne humana, especialmente quando nós somos proibidos até de ver espetáculos de gladiadores, a fim de que não nos tornemos participantes e cúmplices de assassinos. Mas nem podemos ver os outros espetáculos, a fim de que nossos olhos e ouvidos não sejam corrompidos, participando nos discursos ali proferidos. Pois se um deve falar de canibalismo, nestes espetáculos os filhos de Thyestes e Tereus são comidos; e como pelo adultério, tanto no caso de homens como deuses, quem eles celebram em linguagem elegante por honras e prêmios, isto é feito o tema de seus dramas. Mas longe dos cristãos conceberem tais atos, pois com eles coexiste a temperança, autodomínio é praticado, monogamia é observada, caridade é guardada, iniqüidade exterminada, pecado extirpado, justiça exercitada, lei administrada, adoração executada, Deus confirmado: verdade governa, graça guarda, paz os projeta; a palavra sagrada os guia, sabedoria ensina, vida direciona, Deus reina. Então, apesar de nós termos muito a dizer sobre nossa maneira de viver, e as ordenanças de Deus, o criador de toda a criação, nós ainda consideramos que nós temos por agora lembrado vocês o bastante para induzir que vocês estudem estas coisas, especialmente desde que vocês podem agora ler [nossas escrituras] por si mesmos, que como vocês tem gostado de adquirir informação, vocês podem ainda ser estudiosos nesta direção também.15
Aqui, Teófilo continua demonstrando o mesmo sentimento de outros cristãos anteriores a ele: total repulsa pelos rituais e espetáculos pagãos, o que ocasionava várias perseguições aos cristãos. São estas perseguições que confirmam o fato de que os cristãos estavam longe de adotar práticas pagãs.
Orígenes, que viveu entre 185 e 254 d.C., também teve que dar os motivos pelos quais cristãos não participavam de tais costumes. Em sua resposta ao pagão Celso, Orígenes diz:
Vejamos o que Celso adiante diz de Deus, e como ele nos insta ao uso daquelas coisas que são propriamente chamadas de oferendas aos ídolos, ou, ainda melhor, oferendas aos demônios, apesar de que, em sua ignorância sobre o que verdadeira santidade é, e quais sacrifícios são agradáveis a Deus, ele os chama de "sacrifícios sagrados". Suas palavras são, "Deus é o Deus de tudo; Ele é bom, Ele não tem necessidade de nada e ele não tem ciúmes. O que, então, há para impedir aqueles que são mais devotos a Seu serviço em tomar parte em festas públicas". Eu não posso ver a ligação que ele imagina entre Deus ser bom, e independente, e livre de ciúmes, e Seus devotos servos tomando parte em festas públicas. Eu confesso, de fato, que do fato que Deus é bom, e sem a necessidade de nada, e livre de ciúmes, segue-se como consequência que nós poderíamos tomar parte em festas públicas, se fosse provado que as festas públicas não possuem nada de errado, e forem motivadas em visões verdadeiras do caráter de Deus, de forma que elas resultem naturalmente de um serviço devoto a Deus. Se, contudo, os tais festivais públicos não podem de forma alguma ser demonstrados de acordo com o serviço de Deus, mas podem pelo contrário ser provados como inventados por homens quando ocasião se ofereceu para comemorar alguns eventos humanos, ou para evidenciar certas qualidades da água ou terra, ou as frutas da terra - neste caso, está claro que aqueles que desejam oferecer uma adoração culta ao Ser Divino irão agir de acordo com o som da razão, e não tomará parte nas festas públicas. Pois "guardar uma festa", como um dos sábios da Grécia disse bem, "é nada mais do que fazer as obrigações de alguém"; e aquele homem verdadeiramente celebra uma festa onde faz suas obrigações e ora sempre, oferecendo continuamente sacrifícios sem sangue em oração a Deus. Isto então me parece um dizer muito nobre de Paulo, "Vocês observam dias, e meses, e tempos, e anos. Eu temo que tenha trabalhado por vocês em vão".16
Aqui, Orígenes responde a Celso, que parecia querer que todos os cristãos participassem dos festivais públicos. Se a participação de cristãos em festivais pagãos fosse um problema para as autoridades eclesiásticas da época, não deveríamos contar com um pagão tentando demonstrar que os cristãos deveriam participar delas.
Mais tarde, observamos mais críticas por parte de autores cristãos às celebrações feitas por pagãos, o que mostra que o conceito cristão sobre os costumes e festas pagãs não mudou muito. A idéia cristã de que estes festivais devem ser evitados continuou muito viva, como vemos no escrito do autor cristão Lactanius (240 - 320 d.C):
Falta falar dos espetáculos públicos, os quais, tendo maior influência na corrupção da mente, devem ser evitados pelos sábios, e para ser completamente guardado contra, porque é dito que eles foram instituídos em celebração das honras dos deuses. Pois as exibições de espetáculos são festivais de Saturno. O palco pertence ao Pai Liber; mas supostamente os jogos circenses são dedicados a Netuno: assim que agora aquele que toma parte nestes espetáculos parece ter deixado a adoração a Deus, e passou aos ritos profanos.17
Da mesma forma, Arnobius (297-303 d.C) critica os rituais pagãos, dizendo:
A purificação, diz meu oponente, da mãe dos deuses é hoje. Então os deuses se tornam imundos; e para se livrar da imundície, necessitam de água aqueles que os lavam, e até mesmo algumas cinzas para esfregá-los? A festa de Júpiter é amanhã. Júpiter, eu suponho, janta, e deve ser saciado com grandes banquetes, e há muito preenchido com desejos ansiosos por comida por causa de jejum, e fome após o usual intervalo. O festival da vídima de Æsculapius está sendo celebrado. Os deuses, então, cultivam parreiras, e tendo feito a colheita, espremem a vinha para seu próprio uso. O lectisternium de Ceres será no próximo Ides, pois os deuses possuem leitos; e que eles podem ser capazes de deitar em macias almofadas, elas são agitadas quando pressionadas. É o aniversário de Tellus; por os deuses nascem, e tem dias festivos quando se estabelece quando eles começaram a respirar.18
Todas as críticas de Arnobius acima são direcionadas aos festivais comemorados pelos pagãos. Observem que o mesmo Arnobius critica a comemoração de aniversários de deuses, o que é entendido por muitos estudiosos como uma prova que o aniversário de Cristo, em 303 d.C., quando foi escrito o texto acima, ainda não era comemorado.
Portanto, até o ano de 313 d.C, quando o imperador Constantino promulga o Édito de Milão, os cristãos eram perseguidos. Os romanos perseguiam os cristãos, entre outros motivos, por que cristãos não participavam das solenidades pagãs. Vimos também que há sempre algum escritor cristão criticando vários aspectos da vida civil dos pagãos, que mantinha alguma relação com suas divindades. Em nenhuma das menções a festividades pagãs, encontramos o escritor cristão repreendendo cristãos por participarem delas.
Até agora está demonstrado que os cristãos, até o quarto século, não participavam de festividades pagãs, sendo perseguidos por este motivo. Nesta época surge Constantino, o primeiro imperador cristão. Muitas vezes se acusa Constantino de inserir elementos pagãos no cristianismo. Antes de prosseguirmos, vejamos se esta acusação possui fundamento.
Constantino
Constantino tem sido sempre acusado de ser o responsável pela inserção de ritos pagãos no cristianismo. Portanto é interessante para este tema discutir um pouco da vida deste imperador romano, que se tornou famoso por ser o primeiro imperador romano cristão.
É bem verdade que Constantino sempre manteve os costumes pagãos durante toda sua vida, mesmo adotando o cristianismo. Como descreve Phillip Schaff:
Primeiro Constantino, como seu pai, no espírito do neoplatônico sincretismo do decadente paganismo, reverenciou todos os deuses como poderes misteriosos; especialmente Apolo, o deus do sol, a quem no ano de 308 presenteou com presentes magnificentes. Mais do que isto, tão tarde quanto o ano de 321 ele ordena a consulta regular de adivinhos em desgraças públicas, de acordo com o antigo uso pagão; mesmo depois, ele contrói sua nova residência, Bizâncio, sobre a proteção do Deus dos Mártires e da deusa pagã da Fortuna; e até perto do final de sua vida ele manteve o título e a dignidade de um Pontifex Maximus, ou sumo-sacerdote na hierarquia pagã. Suas moedas eram cunhadas de um lado com as letras do nome de Cristo, no outro a figura do deus-Sol, e a inscrição "Sol invictus". É claro que havia inconsistências referidas também à política e acomodação ao edito de tolerância de 313. Nem é difícil de aduzir paralelos de pessoas que, passando do Judaísmo para o Cristianismo, ou do Romanismo para o Protestantismo, cambalearam entre sua antiga e nova posição que eles poderiam ser clamados por ambas. Com cada vitória dele sobre seus rivais pagãos Galério, Maxêncio e Licínio, sua pessoal tendência para o cristianismo e sua confiança no poder mágico do sinal da cruz aumentando; ainda que não renunciando formalmente o paganismo e não recebendo o batismo até que em 337, deitou em seu leito de morte.19
Constantino era pagão. E como um pagão, acostumado com o sincretismo que havia naquela época, Constantino teria adotado o cristianismo como mais uma religião. Por estes motivos, ele tem sido o alvo predileto de pessoas que desejam de uma forma ou de outra, encontrar um ponto na história onde doutrinas pagãs teriam se introduzido no meio cristão.
Mas dificilmente Constantino seria um bom candidato. Constantino realmente manteve traços de paganismo. Mas também é verdade que a partir do momento que Constantino adotou o cristianismo, sua nova crença passou a ter muita influência durante sua vida. Como havia dito Phillip Schaff, antes da citação acima:
Mas com a política ele adicionou também um motivo religioso, não claro e profundo, de fato, ainda que honesto, e fortemente inspirado com a disposição supersticiosa de julgar uma religião por seu sucesso exterior e atribuir virtudes mágicas a sinais e cerimônias. Toda sua família era balançada por um sentimento religioso, que se manifestava em várias formas diferentes, nas peregrinações piedosas de Helena, no arianismo fanático de Constância e Constâncio, e o paganismo fanático de Juliano. Constantino adotou o Cristianismo primeiro como uma superstição, e o colocou ao lado de suas superstições pagãs, até que finalmente em suas convicções a cristã baniu a pagã, apesar de não desenvolver-se em uma pura e culta fé.20
Sua situação é explicada por Schaff, como um convertido que mantinha traços de sua religião antiga. Na citação anterior, ele lembra bem de outros exemplos notáveis que possuíam as mesmas características, e que não são tão criticados por isto. Por exemplo, ao citar o exemplo de pessoa que deixa o Romanismo para se tornar Protestante, Schaff deveria estar se referindo principalmente a Martinho Lutero. Pode-se notar como este reformador, à medida que desenvolvia seu pensamento, abandonava mais e mais crenças que ele ligava ao catolicismo romano.
Acredito também que Schaff, ao citar pessoas que deixaram o Judaísmo para se tornar Cristãs, certamente pensou também no apóstolo Pedro. Seu exemplo poderia ser lembrado sempre que buscam falhas em Constantino.
Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe na cara, porque era repreensível. Pois antes de chegarem alguns da parte de Tiago, ele comia com os gentios; mas quando eles chegaram, se foi retirando e se apartava deles, temendo os que eram da circuncisão. E os outros judeus também dissimularam com ele, de modo que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação. Mas, quando vi que não andavam retamente conforme a verdade do evangelho, disse a Cefas perante todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como os judeus, como é que obrigas os gentios a viverem como judeus?21
Por ainda manter costumes judaicos, Pedro ficou envergonhado quando alguns cristãos-judeus chegaram no local onde ele comia com gentios. Note como Paulo corrige Pedro, porém, não deixa de considerá-lo cristão, muito menos acredita que Pedro fosse um apóstolo que estivesse inserindo costumes judaicos no cristianismo.
Se tomarmos até mesmo as testemunhas de Jeová, que estão entre aqueles que criticam o Natal, alegando ter uma origem pagã, veremos que no início desta religião, seus membros adotavam práticas que os atuais membros condenam, como comemoração de aniversário. Algumas de suas publicações confirmam que eles recebem mudanças, e que isto seria até um sinal indicando que Deus está agindo em sua organização, sempre corrigindo eles quando necessário.
Até o momento, vimos basicamente as características pagãs de Constantino. O que ele apresentava de cristão? Dos atos de Constantino, o que mais se destaca foi a mudança da capital do império, de Roma para Constantinopla. Foi ali que ele pôde dar sua contribuição ao cristianismo, à sua maneira:
Constantino sem questionar iniciou a construção de duas grandes igrejas em Constantinopla, Hagia Sophia (Santa Sabedoria) e Hagia Eirene (Santa Paz); a fundação de uma terceira, a Igreja dos Santos Apóstolos, pode ser atribuída a ele com uma medida de certeza. Ao contrário da antiga Roma, que estava cheia de monumentos e instituições pagãos, a Nova Roma era essencialmente uma capital Cristã (e eventualmente a Sé de um patriarca), apesar de nem todos os traços de seu passado pagão ter sido eliminado.22
Ali, como diz a Enciclopédia acima, Constantino criou uma nova capital, livre da enorme quantidade de monumentos pagãos. Uma capital cristã. Ele promulgou um decreto proibindo adivinhos, além de devolver todas as propriedades confiscadas de cristãos. Constantino podia ser supersticioso, adotar símbolos pagãos. Mas ele dava traços de que tinha o cristianismo com o mais alto apreço. É verdade que ele se batizou quase morrendo, mas também é verdade que os cristãos deixavam o batismo para o último momento de suas vidas. Para eles, o batismo lavava todos os pecados, e deixando-se para os últimos momentos, não teriam tempo de cometer mais pecados.
Então, neste ponto, é necessário perguntar: que motivos Constantino teria para fazer cristãos adotarem os dias festivos pagãos? Pois isto contradiria o próprio Édito de Milão elaborado por ele para dar liberdade de culto aos cristãos. E mais importante ainda: por que os cristãos, que por 3 séculos preferiram a morte do que simplesmente adotar tais costumes à força, agora que ganharam a simpatia do imperador fariam aquilo que eles antes desprezavam? São estas perguntas que críticos como as testemunhas de Jeová precisam responder, para possuir algum crédito.
Não podemos negar que os imperadores, ao intervir nas questões eclesiásticas, tentavam impor seus pontos de vista. É por isto que as discussões trinitárias, onde Constantino esteve envolvido, são importantes para o esclarecimento desta questão. Em 325, o Concílio Ecumênico de Nicéia se decidiu pela posição trinitária, excomungando Ário e exilando dois bispos arianos. Após este concílio, muita coisa mudou, como relata o historiador eclesiástico Roger Olson:
Entre os anos de 325 e 332, exatamente quando Atanásio estava assumindo seus deveres como bispo de Alexandria, o imperador Constantino começou a mudar de partido no assunto, sob a pressão de bispos e conselheiros que secretamente simpatizavam com Ário e dos dois bispos que o apoiaram e foram depostos e exilados. A força da animosidade que se seguiu ao concílio foi intensa. As discussões e o tumulto não tinham cessado. Alguns que tinham assinado o credo e os anátemas contra os arianos ficaram horrorizados com a interpretação sabeliana distorcida aplicada ao credo por Marcelo e outros. Conseguiram conquistar a confiança do imperador e este começou paulatinamente a pensar em mudar o credo e até mesmo a restaurar Ário e os bispos de Nicomédia e Nicéia.
...
Enquanto Atanásio estava no exílio em Tréveris, Ário morreu, na véspera do dia em que seria restaurado como um presbítero cristão numa cerimônia especial em Constantinopla. Alguns estudiosos especulam que tenha sido envenenado por seus inimigos. Seja como for, sua morte em 336 ocorreu poucos meses antes da morte do próprio Constantino em 22 de maio de 337. Constantino viveu como pagão e morreu como ariano. Semelhante currículo para "o primeiro imperador cristão" não é muito admirável! Mesmo assim, a sua morte foi o término de um grandioso capítulo na história cristã. A partir de então, com apenas uma breve exceção, os imperadores romanos se considerariam cristãos em certo sentido, e interfeririam constantemente nas questões eclesiásticas e teológicas.23
Vimos que após este concílio, a opinião de Constantino sobre a Trindade estava mudando. Olson nos traz uma informação muito importante aqui. Ele nos informa que Constantino, somente depois de ser abordado pelos arianos e convencido por eles, é que começou a pensar em mudar o credo. Isto significa que Constantino, embora fosse pagão, não provocaria a mudança de uma doutrina cristã, a menos que ele estivesse convencido que dentro da teologia cristã, a doutrina devesse ser mudada. Por outro lado, mesmo sendo o imperador, ele não fez esta mudança, e o cristianismo ainda debateria muito a questão. De fato, Olson nos diz que os imperadores interfiririam constantemente nas questões eclesiásticas e teológicas. Isto não conseguiu impedir que a doutrina da Trindade fosse aceita, tal qual conhecemos hoje, apesar de muitos imperadores arianos terem sucedido Constantino. Afinal de contas, a igreja que resistiu 3 séculos de perseguição não iria deixar que uma doutrina estranha fosse inserida na teologia cristã, sem oferecer resistência.
Então, apesar de Constantino manter muitas crenças pagãs, ele dificilmente teria influência suficiente na igreja cristã para introduzir qualquer crença pagã que ele gostasse. Concluindo isto, podemos agora passar para as referências encontradas sobre a data de nascimento de Cristo.
Nascimento de Cristo
Embora a Bíblia não diga qual o dia que Cristo nasceu, muitos tentaram calcular esta data na antiguidade. Vamos agora relacionar estas tentativas aqui, embora não muitas, observando como elas acabam na primeira referência ao Natal no dia 25 de dezembro, feita no ano de 354 d.C.
A primeira referência a alguém calculando a data de nascimento de Cristo é de Clemente de Alexandria, já no ano de 200 d.C.:
E há aqueles que determinaram não somente o ano do nascimento do nosso Senhor, mas também o dia; e eles dizem que aconteceu no vigésimo oitavo ano de Augustus, e no dia vinte e cinco de Pachon. E os seguidores de Basilides mantém o dia de seu batismo como um festival, passando a noite anterior com leituras.
E eles dizem que foi o décimo quinto ano de Tiberius Cæsar, o décimo quinto dia do mês de Tubi; e alguns que foi no décimo primeiro do mesmo mês. E tratando de Sua paixão, com muita exatidão, alguns dizem que aconteceu no décimo sexto ano de Tiberius, no vigésimo quinto de Phamenoth; e outros o vigésimo quinto de Pharmuthi e outros dizem que no décimo nono de Pharmuthi o Salvador sofreu. Além disto, outros dizem que Ele nasceu no vigésimo quarto ou vigésimo quinto de Pharmuthi.24
Aqui, Clemente está se referindo a alguns teólogos egípcios, embora não fale se eles comemoravam esta data como uma festa. Adiciona também que os seguidores de Basilíades, uma seita gnóstica, comemoravam a Epifania. O dia 25 de Pachon cai no dia 20 de Maio. Segundo Clemente havia ainda outros que chegaram ao dia 24 ou 25 de Pharmuthi, que cai nos dias 19 e 20 de Abril.
Deve-se mencionar também, o texto conhecido como "De paschæ computus" que foi escrito em 243 d.C. e é falsamente atribuído a Cipriano. Nele, defende-se que Cristo nasceu no dia 28 de Março, pois este teria sido o mesmo dia que o sol foi criado.25
Muitos ao discutirem a definição do dia 25 de dezembro como a data de nascimento de Cristo, costumam se referir ao comentário de Hipólito a Daniel 4:23, escrito por volta de 205 D.C. Segundo este comentário:
"Pois a primeira vinda de Nosso Senhor na carne [que Ele foi gerado], em Belém, aconteceu [em 25 de Dezembro, o quarto dia] no reinado de Augusto [o quadragésimo segundo ano, e] no ano 5500 [de Adão]. E Ele sofreu em seu trigésimo terceiro ano [25 de Março, sexta-feira, no oitavo ano de Tibério César, durante o consulado de Rufus e Rubellio]."26
No entanto, as palavras entre chaves são consideradas espúrias atualmente. Entre os motivos, estão: (1) Os nomes dos cônsules estão errados (deveriam ser Fufius e Rubellius), (2) aqui Cristo vive trinta e três anos, enquanto que no Hipólito genuíno ele vive trinta e um e (3) seria difícil que Hipólito possuísse tais informações quando seus contemporâneos não as possuíam, quando necessitaram. Assim, assume-se que estes trechos tenham sido interpolados.
Aqui se torna oportuno discutir a festa pagã conhecida como Dies Natalis Solis Invicti, que é geralmente apontada como a causa do Natal ser comemorado no dia 25 de dezembro. Este argumento foi estabelecido sistematicamente pela primeira vez por Usener27.
Durante toda a história da humanidade, várias formas de culto ao Sol existiram. O culto ao Sol no império romano pode ter sido tomado dos Sírios pelo imperador Aureliano, imperador este que tornou o culto ao Sol popular, no ano de 274 d.C., como nos informa An Online Encyclopedia of Roman Emperors:
O imperador tentou obter mais unidade no Império estabelecendo o Sol Invicto como deus supremo do Império Romano. Em moedas, Sol é chamado de Dominus imperi Romani. Um sacerdócio chamado de "sacerdotes do deus-Sol" foi criado. No fim do ano de 274 d.C., talvez no dia 25 de Dezembro (alegado aniversário do Sol), ele inaugurou o novo templo do deus-Sol em Roma no lado oriental do Campus Martius (hoje entre a Via del Corso e a Piazza San Silvestro). Jogos anuais e um agon Solis a cada quatro anos eram mantidos em honra ao deus-Sol. Aureliano também restaurou a disciplina no exército.28
O texto acima não dá certeza sobre a data de 25 de dezembro por que não existe nenhuma referência à festa pagã Dies Natalis Solis Invicti anterior a 354 d.C29. Ou seja, muito embora Aureliano tenha promovido esta deidade e tenha procurado unificar a religião do império, não se tem notícias sobre esta data festiva anterior nesta época.
A primeira referência ao feriado pagão no dia 25 de dezembro é feita na cronografia de 354, no calendário de Filocalus, que indicava todos os dias festivos civis. Esta data é registrada como N·INVICTI·CM·XXX no mês de dezembro30, que traduzindo seria Nascimento do Invicto. Assim, embora se assuma que o Invicto aqui se refira ao Sol, isto não é declarado explicitamente. A referência mais direta é feita pelo imperador Juliano em sua Oração ao Rei Hélio, feita em 362 D.C.
Costuma-se atribuir a criação do feriado a Aureliano, por que como ele é o promotor do Sol Invicto, seria a explicação mais fácil para a data. Outros assumem que seria natural atribuir ao dia considerado pelos romanos como o solstício de inverno, o dia festivo para o nascimento do sol. No entanto, não há evidências que houvesse um festival neste dia, anteriores à cronografia de 354. Por outro lado, há evidências que houvesse festivais dedicados ao Sol nos dias 8 e 9 de agosto, possivelmente 28 de Agosto e 11 de dezembro31. Destas datas apenas o dia 28 de Agosto é mencionado no calendário de 354, além de jogos entre os dias 19 e 22 de Outubro, sendo o último dia o mais importante, por se comemorar com as inigualáveis 36 corridas de biga. Há evidências diretas de que Aureliano instituiu agones (jogos, mas diferentes dos ludi) de quatro em quatro anos em honra ao Sol, e o calendário de 354 parece sugerir que eles eram feitos entre 19 e 22 de Outubro.
Alguns preferem, no entanto, atribuir os agones de Aureliano ao dia 25 de dezembro. Mas Hijmans faz uma defesa convincente de que este festival de Aureliano foi de fato instituído entre os dias 19 e 22 de Outubro, enquanto que o dia 25 de dezembro era uma data festiva mais recente. Segundo ele, é no hino de Juliano para o rei Hélio que encontramos o argumento mais forte contra a data de 25 de dezembro. Ele comenta que:
É no final do hino de Juliano que encontramos o maior argumento contra 25 de dezembro como a data dos agones quadrieniais de Aurélio. Juliano explicitamente diferencia estes agones (plural) para o Sol, que ele caracteriza como "recente", com o mais impressionante agon (singular) para o Sol Invictus que ele acabou de celebrar no solstício de inverno, e que ele atribui a Numa. Nós podemos ignorar aquela atribuição, que é sem sentido32, mas poderia haver alguma dúvida que os agones quadreniais de invenção recente que ele menciona eram os jogos quadrienais instituídos por Aureliano 88 anos antes? Nós certamente não temos evidências que haviam múltiplos jogos quadrienais para o Sol. Juliano claramente considera o agon que ele atribui a Numa não estar relacionado a estes agones quadrienais, e ainda os jogos de Aureliano teriam sido celebrados em 362 pela vigésima terceira vez. Isto significa que eles foram celebrados em um tempo diferente, e assim nós podemos descartar o dia 25 de dezembro como a data dos agones de Aureliano para o Sol33.
Assim, embora a data de 25 de dezembro seja referida pelo calendário de 354 como Nascimento do Invicto, indicando que houvesse uma referência ao culto solar no ano de 354, Hijmans argumenta que este dia não era o principal dia de festividades ao sol. Ele descreve que:
A norma padrão para festivais romanos neste tempo era 24 corridas de biga. Dos 63 dias de corrida no calendário de 354, 59 tinham 24 corridas, as únicas exceções sendo 25 de Fevereiro e 1 de Junho, quando somente 12 corridas eram feitas, 25 de Dezembro com 30 corridas e 22 de Outubro com 36 corridas. As 36 corridas de biga de 22 de Outubro assim representam o maior número do ano, que sugere ainda que esta não era uma celebração anual, mas uma mais rara celebração quadrienal.
Isto significa que no começo do quarto século, quando o Natal foi estabelecido pela igreja em 25 de Dezembro, qualquer um que pesquisar o calendário de festividades em honra ao Sol vai identificar o período de 19 a 22 de Outubro como muito mais importante que 25 de Dezembro, e o festival de 28 de Agosto como mais antigo. Se o plano era "neutralizar" o culto do Sol por "tomar" seu maior festival, 25 de Dezembro parece ser a escolha mais improvável.34
Assim, como Hijmans atesta, 25 de dezembro seria a data mais improvável para se escolher, caso o desejo dos antigos pais da igreja fossem neutralizar o culto solar. Mas o dado mais interessante é que neste mesmo calendário de 354, temos a primeira menção ao nascimento de Cristo no dia 25 de dezembro, encontrado em DEPOSITIO MARTIRVM, comemorado em 8 dias antes das calendas de Janeiro, indicado pelas palavras "natus Christus in Betleem Iudeae".35 Portanto, antes do imperador Juliano declarar o dia 25 de dezembro como o agon mais importante para o Sol, cristãos já atribuiam este dia ao nascimento de cristo.
O sentimento anti-pagão demonstrado pelos cristãos, como demonstrado acima, dificilmente permitiria que estes adotassem o feriado, que não se sabe sequer quando foi criado. Além disto, sabemos que Aureliano próximo de sua morte, estava a ponto de promulgar mais uma perseguição aos cristãos, como relata o historiador eclesiástico, Eusébio de Cesaréia:
20.Assim era para conosco Aureliano, pelo menos por então. Mas, já avançado seu império, mudou de pensamento sobre nós e se deixava excitar por certos conselhos para que suscitasse uma perseguição contra nós. Eram muitos os rumores sobre este ponto em todos os ambientes.
21.Mas, quando estava a ponto de fazê-lo e, por assim dizer, já assinava os decretos contra nós, a justiça divina o alcançou, retendo-o no ato como que amarrando-lhe os braços . Com isto permitiu a todos ver claramente que nunca os poderes desta vida teriam facilidade contra as igrejas de Cristo se a mão que nos protege, por juízo divino e celeste, para nossa instrução e conversão, não permitisse que isto se levasse a cabo nos tempos que ela julga bons.36
Se a data já era usada pelos cristãos como dia festivo, e se houve de fato alguma intenção de substituir festas, era muito mais provável que Aureliano tenha feito isto, já que ele não se simpatizava com o Cristianismo. Até mesmo a declaração de Juliano pode ser vista como uma tentativa de rivalizar com o Cristianismo. Juliano era um imperador pagão que desejava restaurar o culto pagão, depois de Constantino aceitar o cristianismo como religião oficial do império. Juliano tenta convencer que o culto ao sol no solstício de inverno existe desde os tempos de Numa. Isto sugere exatamente o contrário, que o festival nesta data era bem novo, ou que Juliano queria dar mais importância a este dia assim que o bispo de Roma comemorou a data pela primeira vez. Para finalizar a discussão do culto solar, vejamos o que Hijmans diz sobre este culto ser um rival a altura do cristianismo:
Em todo respeito esta figura é muito irreal. Para começar há a noção sociologicamente problemática de um deus, com um passado aparentemente suspeito (sob Heliogabalus 218-222), sendo"estabelecido" por um traço de caneta como suprema deidade por um imperador (Aureliano, 270-275). Poderia o Sol realmente ter sido aceito como tal pelo "Império" (seja o que isto significar) a tal nível que seu culto se tornaria um sério competidor do Cristianismo? Apesar de tudo, se diz que este culto manteve sua posição de domínio por meros cinquenta anos (até Constantino, 313-337), para somente desaparecer novamente tão rápido como se pensa que surgiu. Como uma análise do papel e influência do culto solar, esta abordagem carece de lógica interna e coesão. Pense: não havia nenhum culto solar em Roma, que nós sabemos, até Aureliano trazer de volta da Síria um culto previamente descreditado no ano de 274 D.C. O politeísmo romano era então tão instável, que os romanos imediatamente permitiram este deus oriental suplantar deidades romanas mais antigas como Jupiter Optimus Maximus como o "mais importante" (seja o que isto signficar em um contexto politeísta) deus do império. E ainda se diz que aqueles mesmos romanos inconstantes que em 274 rapidamente descartaram os velhos e consagrados cultos romanos a favor de um novo e oriental, mantiveram tão tenazmente seu ("velho"? "novo"?) festival solar nos anos 330 e além de forma que os líderes cristãos se sentiram obrigados a neutralizar a ameaça daquelas ("arraigadas"?) práticas por colocar festas cristãs nos dias das pagãs.37
Assim, ao compararmos os 300 anos de resistência cristã a perseguições romanas, com os meros 50 anos de subsistência da religião solar, podemos perceber que se torna absurdo qualquer argumento de "neutralização" de uma festividade pagã, por parte dos cristãos.
Voltando ao estabelecimento do nascimento de Cristo, já em 354 temos indícios que a data de 25 de dezembro era considerada a data de nascimento de Cristo na cidade de Roma. Já no ano de 380, temos indícios da comemoração do aniversário de Cristo por cristãos. Neste ano, Gregório Nazianzeno faz uma oração intitulada "Sobre a Epifania, ou nascimento de Cristo", onde ele diz:
Destes em uma ocasião futura, pois o presente é o Festival da Teofania ou Aniversário, pois é chamado pelos dois nomes, dois títulos sendo dados a uma coisa. Pois Deus se manifestou ao homem através do nascimento. De um lado Ser, eternamente Ser, do Ser Eterno, acima da causa e palavra, pois não houve palavra antes dA Palavra; de outro lado em nosso favor também Tornando, pois Aquele que nos dá o viver também nos dá o bem-viver, ou de outra forma deve restaurarnos por Sua Encarnação, quando nós por causa do pecado caímos do bem-viver. O nome Teofania é dado em referência à Manifestação e o Aniversário em referência ao Seu Nascimento.38
Nota-se aqui que a festa para ele possui dois nomes, cada uma identificando um aspecto da festa. Sobre como os cristãos a chamavam, Suidas diria depois que "A Epifania é a encarnação do Salvador" e Epifânio "O Dia da Epifania é o dia no qual Cristo nasceu de acordo com a carne".39 No entanto Jerônimo usava o mesmo nome para o Batismo de Cristo, ao dizer "O dia da Epifania é ainda venerável; não como alguns pensam, por causa de seu nascimento na carne; pois então ele estava escondido, não manifestado; mas ela concorda com o tempo que foi dito, Este é Meu Filho amado".40
Não se sabe os motivos que fizeram os líderes da igreja em Roma escolher esta data, e principalmente por que esta data se tornou mais difundida por todo o império. Acredita-se que a definição da data foi fruto de tentativas por parte dos cronógrafos, de datar todos os eventos da história cristã. Assim, foi necessário se definir exatamente o dia que Jesus nasceu.
Parte deste trabalho de datação se deve a uma conexão existente entre a morte de Cristo e seu nascimento. Tal conexão seria estranha para ouvidos modernos, mas não parecia assim para os antigos cristãos. Para eles, Jesus teria sido concebido no mesmo dia que teria morrido: 25 de Março, dia da Páscoa. Tal idéia aparece no tratado Sobre Solstícios e Equinócios:
Então nosso Senhor foi concebido na oitava calenda de Abril no mês de Março [Março 25], que é o dia da paixão do Senhor e de sua concepção. Pois naquele dia ele foi concebido, no mesmo dia ele sofreu.
Da mesma forma, Agostinho em seu tratado A Trindade, fala da tradição sobre o dia 25 de dezembro:
Existe a crença de que ele foi concebido a 25 de março e no mesmo dia sofreu a paixão. Assim o sepulcro novo onde foi colocado, onde ninguém havia sido sepultado e nem haveria de ser (Jo 19:41), é como o seio virginal onde foi concebido e onde sêmem algum humano foi depositado. Diz a tradição que nasceu no dia 25 de dezembro. Portanto, de 25 de março a 25 de dezembro contam-se duzentos e setenta e seis dias, número em que é o sei repetido quarenta e seis vezes.41
Este pensamento se apresenta também na igreja oriental, que ao invés de pegar a data de 14 de Nisan, pegaram o dia 14 do primeiro mês da primavera, que caía no dia 6 de Abril para nós. Esta data resultaria no dia 6 de Janeiro, dia que a igreja ortodoxa comemora este evento.
Esta idéia de ligação entre a concepção e a morte de Cristo reflete o pensamento antigo e medieval de que a salvação está intimamente ligada. Tal fato pode ser notado pelas imagens da anunciação, onde Cristo desce do céu com uma cruz na mão. Assim, a escolha do dia 25 de dezembro estaria ligado não a festivais pagãos, mas a um simples cálculo baseado em uma forma antiga de entender a obra da salvação.
Mesmo que houvese a ligação entre o Natal e uma festa pagã, isto seria suficiente para desabonar a comemoração? Prosseguimos este texto portanto, buscando entender se é errado, diante da teologia cristã, adotar como dia festivo um dia onde outra deidade pagã é festejada.
É errado celebrar algo no mesmo dia de um festival pagão?
Depois de todo tratamento histórico à questão, devemos passar agora para a questão teológica. E a primeira questão que nos vem à mente é saber se é correto festejar em um dia, que no passado foi considerado dia sagrado para o paganismo. De fato, é esta questão que o site da Torre de Vigia faz:
Você acha aceitável que um líder religioso dê um significado aparentemente cristão a eventos e símbolos que têm raízes no antigo paganismo? Quanto ao proceder correto, as Escrituras admoestam os cristãos verdadeiros: "Que associação tem a justiça com o que é contra a lei? Ou que parceria tem a luz com a escuridão?" - 2 Coríntios 6:14-1742.
Para responder esta questão, vamos analisar a festa judaica conhecida como Chanucá, ou Festival das luzes. Este festival foi instituído pelos judeus em 165 A.C., e celebra a rededicação do templo de Jerusalém após três anos de profanação por parte do rei Antióquio Epifâneo IV, que levantou um altar pagão no local onde eram feitos os sacrifícios diários, segundo o primeiro livro de Macabeus:
No dia quinze do mês de Casleu, do ano cento e quarenta e cinco, edificaram a abominação da desolação por sobre o altar e construíram altares em todas as cidades circunvizinhas de Judá. - 1 Macabeus 1:54
O que nós sabemos através do apóstolo João, é que Jesus estava em Jerusalém para a comemoração desta festa, caminhando exatamente pelo templo cuja rededicação se comemorava:
E em Jerusalém havia a festa da dedicação, e era inverno. E Jesus andava passeando no templo, no alpendre de Salomão. - João 10:22,23
Este alpendre de Salomão é exatamente o muro que acreditava ser a única parte do templo de Salomão ainda em pé43. Isto reflete exatamente a leitura da Bíblia feita no segundo sábado da Chanucá44, de 1 Reis 7-40-50. De fato, João sempre descreve Jesus participando de todas as comemorações judaicas (como em João 2:13, João 7:2-11, João 11:55-57 e João 13:29). Com estas duas informações juntas, dificilmente poderíamos considerar que Jesus não estava ali para as comemorações do dia. E assim, vemos Jesus comemorando uma festa que não foi estabelecida por Deus nas Escrituras.
Mas é investigando as origens da Chanucá que obtemos mais informações sobre nossa primeira questão. Assim, voltando ao texto de Macabeus, podemos ver uma descrição da forma como Antióquio Epifânio profanou o templo:
Pouco tempo depois, um velho ateniense foi enviado pelo rei para forçar os judeus a abandonar os costumes dos antepassados, banir as leis de Deus da cidade, macular o templo de Jerusalém, dedicá-lo a Júpiter Olímpico e consagrar o do monte Gerizim, segundo o caráter dos habitantes do lugar, a Júpiter Hospitaleiro. Dura e penosa foi para todos essa avalanche de mal. O templo encheu-se de lascívias e das orgias dos gentios que se divertiam com meretrizes, unindo-se às mulheres nos átrios sagrados e introduzindo coisas ilegais. O altar estava coberto de vítimas impuras, interditas pelas leis. Não se permitia mais a observância do sábado, a celebração das antigas festas, nem mesmo confessar-se judeu. - 2 Macabeus 6:1-6
Assim, no dia 25 do mês de Casleu, que o altar dos holocaustos foi novamente rededicado:
No dia vinte e cinco do nono mês, isto é, do mês de Casleu, do ano cento e quarenta e oito, eles se levantaram muito cedo, e ofereceram um sacrifício legal sobre o novo altar dos holocautos, que haviam construído. - 1 Macabeus 4:52,53
Mas o escritor de Macabeus nos dá uma informação ainda mais importante:
Foi no mesmo dia e na mesma data em que os gentios o haviam profanado, que o altar foi de novo consagrado ao som de cânticos, das harpas, das liras e dos címbalos. - 1 Macabeus 4:54
E mais uma vez:
Foi estabelecido por Judas e seus irmãos, e por toda a assembléia de Israel que os dias da dedicação do altar seriam celebrados cada ano em sua data própria, durante oito dias, a partir do dia vinte e cinco do mês de Casleu, e isto com alegria e regozijo. - 1 Macabeus 4:59
Acima vimos que o templo foi maculado exatamente por ter sido dedicado a Júpiter. Além disto, o escritor de Macabeus nos informa que os sacrifícios pagãos no templo eram feitos mensalmente, no dia do aniversário do imperador:
Em cada mês, no dia natalício do rei, realizava-se um sacrifício; os judeus eram odiosamente forçados a tomar parte no banquete ritual e, por ocasião das festas em honra de Dionísio, deviam forçosamente acompanhar o cortejo de Baco, coroados com hera. - 2 Macabeus 6:7
Vimos que o altar foi construído no dia 15 de Casleu, mas o sacrifício só foi realizado no dia 25. Vimos agora que os sacrifícios eram realizados no dia do aniversário do imperador. Isto sugere que a data de 25 de Casleu foi escolhida pelo imperador como dia dedicado a Júpiter Olímpico. Vemos também que os judeus escolheram a mesma data, anteriormente pagã, para comemorar esta rededicação:
Foi no dia do aniversário da profanação do templo pelos estrangeiros, isto é, no dia vinte e cinco do mês de Casleu, que eles o purificaram. - 2 Macabeus 10:5
Assim, vemos aqui que embora a festa da Chanucá tenha sido instituída no mesmo dia de uma festa pagã, não impediu que o próprio Jesus Cristo a comemorasse.
Podemos explorar ainda mais o exemplo da Chanucá, mencionando que 25 de Casleu pode coincidir com o solstício de inverno. De fato, no ano de 168 A.C., quando o templo foi rededicado, o dia 25 de Casleu caiu no dia 25 de dezembro. Nem mesmo as relações astronômicas impediram os judeus de estabelecer a data, ou Jesus de comemorá-la.
Assim, respondendo a pergunta feita anteriormente, eu acho aceitável, e o mais importante, o próprio Jesus Cristo acha aceitável. Sendo dito isto, nos resta agora apenas mais uma questão a ser resolvida: por que comemorar o aniversário de Cristo, sendo que nunca é dada esta ordem nas Escrituras?
Qual a necessidade do Natal?
Certamente muitos se perguntariam qual o significado do nascimento de Cristo. Mas não podemos ignorar a alegria demonstrada até mesmo pelos anjos, quando Cristo nasceu:
E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus, e dizendo: Glória a Deus nas alturas, Paz na terra, boa vontade para com os homens. - Lucas 2:13,14
Tendo consciência disto, a Torre de Vigia em seu site acaba reconhecendo que há algum significado no nascimento de Cristo:
É evidente que o principal significado do nascimento de Jesus tinha que ver com a obra que ele realizaria como o Rei designado do Reino de Deus. O governo de Cristo pode beneficiar a todos, inclusive você e seus parentes e amigos. De fato, os anjos indicaram que o nascimento dele resultaria em "paz na terra para as pessoas a quem [Deus] quer bem". - Lucas 2:14, Bíblia na Linguagem de Hoje.45
Entre os ensinos da Torre de Vigia, há aquele que ensina que Jesus era um ser espiritual, ou um anjo. Podemos perceber isto nestas palavras:
Jesus obviamente era humano, mas diferente de todos os outros, pois havia sido um ser espiritual, conhecido no céu como a Palavra. Daí, de maneira milagrosa, Deus transferiu sua vida do céu para o ventre de Maria. "A Palavra se tornou carne", o apóstolo João afirmou, "e residiu entre nós". - João 1:1, 2, 14, 18; Revelação (Apocalipse) 3:14.46
De fato, as testemunhas de Jeová identificam Jesus Cristo com o arcanjo Miguel:
Arcanjo. A Palavra de Deus fala de Miguel, "o arcanjo". (Judas 9) Esse termo significa "anjo principal". Note que Miguel é chamado de o arcanjo. Isso sugere que existe apenas um anjo assim. De fato, a palavra "arcanjo" ocorre na Bíblia apenas no singular, nunca no plural. Além do mais, o cargo de arcanjo se relaciona com Jesus. Sobre o ressuscitado Senhor Jesus Cristo, 1 Tessalonicenses 4:16 diz: "O próprio Senhor descerá do céu com uma chamada dominante, com voz de arcanjo." A voz de Jesus é descrita aqui como sendo a de arcanjo. Portanto, esse texto indica que o próprio Jesus é o arcanjo Miguel.
Líder militar. A Bíblia diz que ‘Miguel e seus anjos batalharam com o dragão e seus anjos'. (Revelação 12:7) De modo que Miguel é o Líder de um exército de anjos fiéis. Revelação também se refere a Jesus como Líder de um exército de anjos fiéis. (Revelação 19:14-16) E o apóstolo Paulo menciona especificamente o "Senhor Jesus" e "seus anjos poderosos". (2 Tessalonicenses 1:7) Portanto, a Bíblia fala tanto de Miguel e "seus anjos" como de Jesus e "seus anjos". (Mateus 13:41; 16:27; 24:31; 1 Pedro 3:22) Visto que a Palavra de Deus em nenhuma parte indica que existem dois exércitos de anjos fiéis no céu - um comandado por Miguel e outro por Jesus -, é lógico concluir que Miguel não é outro senão o próprio Jesus Cristo no seu papel celestial47.
Há também outro ensino entre eles, de que seres espirituais (ou anjos) podem se materializar como humanos e voltar ao estado anterior:
Na época de Noé, um número não especificado de anjos abandonou a família celestial, veio para a Terra e se materializou em corpos humanos. Por que fizeram isso? Porque desenvolveram o desejo de ter relações sexuais com mulheres, o que os levou a terem filhos chamados de nefilins, que se tornaram gigantes violentos. Além do mais, ‘a maldade do homem era abundante na terra e toda inclinação dos pensamentos do seu coração era só má, todo o tempo'. No entanto, Jeová Deus não permitiu que essa corrupção da humanidade continuasse. Ele trouxe um Dilúvio global, que eliminou todos os humanos perversos junto com os nefilins. Apenas os servos fiéis de Deus se salvaram. - Gênesis 6:1-7, 17; 7:23.
Os anjos rebeldes escaparam da destruição do Dilúvio, abandonando os corpos humanos e voltando para o céu como criaturas espirituais. Depois disso, passaram a ser chamados de demônios. Eles decidiram ficar do lado de Satanás, o Diabo, que é chamado de "governante dos demônios". (Mateus 12:24-27) Assim como seu governante, os demônios anseiam ter a adoração do homem.48
Se um anjo pode se materializar, e se o nascimento de Cristo era importante apenas por estar relacionado com seu futuro reinado, por que motivos então Ele teve que ser concebido em um útero feminino, e nascer como um ser humano qualquer? Se anjos podem simplesmente se materializar, por que Jesus Cristo como um anjo, não se materializou?
Estas simples perguntas demonstram que a explicação dada pela Torre de Vigia à importância do nascimento de Cristo não são satisfatórias, e que no fundo, a Torre de Vigia não pode explicar qual o significado do nascimento de Cristo. Ela não compreende os motivos que levaram os anjos a comemorarem o nascimento de Cristo.
Como prova da importância deste nascimento, o próprio profeta Isaías o previu:
Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel. - Isaías 7:14
E para lembrar desta profecia, o evangelista Mateus recorda mais adiante, dizendo:
Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá-lo-ão pelo nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco. - Mateus 1:22,23
No entanto, devemos recordar que no mesmo evangelho, o anjo orienta José para que ele lhe dê o nome de Jesus. Desta forma, podemos perceber que Emanuel, ou Deus conosco, é um título atribuído a Jesus. Mateus não registra aqui apenas o cumprimento da profecia de uma virgem dando a luz, mas também da Encarnação do próprio Deus. Pode-se aqui retrucar, dizendo que a vinda de Jesus da parte de Jeová, faz com que Jeová seja referido como Deus conosco. De fato, se Jeová envia o auxílio, Ele deve ser conhecido como Deus conosco, como acontece em outras passagens (Isaías 8:8, Isaías 8:10). Mas neste caso, se é Jeová que está conosco, nos auxiliando, então Ele deveria ser referido aqui com o título de Emanuel. Ao contrário, é Jesus que recebe o título de Mateus, o que se harmoniza muito bem com o que é dito de Jesus por outros evangelistas, como ele ser Deus (João 1:1), ou que quem o vê, vê o Pai (João 14:9).
O que Mateus registra, então é a Encarnação do Verbo. Esta Encarnação é tão importante, que João pronuncia a condenação daqueles que não a reconheciam (1 João 4:2,3; 2 João 1:7). É nesta Encarnação que Deus se une à humanidade, que Jesus se torna o Mediador dos homens. E é através dela que somos socorridos, como defende o escritor de Hebreus:
E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados. - Hebreus 2:16-18
Jesus Cristo não veio ao mundo somente para o Seu sacrifício. Ele veio para participar da vida humana em tudo, exceto o pecado. Neste ponto, o nascimento era muito importante. Por outro lado, a própria Encarnação é um grande milagre, que proporcionou a Salvação aos homens. E aqueles que foram salvos certamente recordam com muita alegria daquilo que proporcionou esta salvação a eles.
Conclusão
Fizemos aqui uma análise geral da argumentação principal contra a observância do Natal. De fato, a Bíblia não ordena aos cristãos que comemorem esta data em nenhum momento. No entanto, devemos entender isto não como uma proibição, mas sim como uma liberdade concedida ao homem.
Assim, se há uma ordem para comemorar determinado evento, devemos sempre comemorá-lo. Se há ordem proibindo que algo seja comemorado, não vamos comemorar de forma alguma. Mas se nenhuma ordem foi dada, temos a liberdade de escolher se devemos ou não comemorar, baseados em nossas consciências. Se entendemos que algo vai contra a vontade de Deus, não comemoramos. Mas do contrário, podemos comemorar. O Natal como comemoração do nascimento de Cristo não é uma comemoração contrária à vontade de Deus.
Há quem comemore, e há quem não comemore. O que devemos fazer diante disto é não fazer julgamento nenhum sobre eles. O erro de pessoas como as testemunhas de Jeová ou até mesmo o Bispo Edir Macedo é tentar proibir algo que não foi proibido. Paulo já advertia os Colossenses sobre aqueles que pronunciam qualquer julgamento a respeito da comemoração de dias (Colossenses 2:16). Infelizmente estas pessoas ignoram a orientação de Paulo.
Notas
1. William J. Tighe, "Calculating Christmas", que pode ser visto em http://www.touchstonemag.com/archives/article.php?id=16-10-012-v
2. Edir Macedo fala contra o Natal em seu blog, no endereço http://blog.bispomacedo.com.br/tag/natal. Segundo ele, "Seu [do Natal] início e origem surgiu na antiga Babilônia de Ninrode. Na verdade suas raízes datam de épocas imediatamente posteriores ao dilúvio", embora em momento algum ele forneça alguma referência às informações que ali postadas.
3. http://www.watchtower.org/t/20041215/article_02.htm
4. GONZÁLEZ, Justo L., Uma história ilustrada do Cristianismo, a Era dos Mártires, Volume 1, Editora Vida Nova, página 55.
5. Ibid.
6. Justino, Primeira Apologia capítulo 6, que pode ser visto em inglês no site http://www.ccel.org/ccel/schaff/anf01.viii.ii.vi.html.
7. Justino, Primeira Apologia, capítulo 24, que pode ser visto em inglês no site http://www.ccel.org/ccel/schaff/anf01.viii.ii.xxiv.html
8. Justino, Primeira Apologia, capítulo 25, que pode ser visto em inglês no site http://www.ccel.org/ccel/schaff/anf01.viii.ii.xxv.html
9. Plínio, Epp. X (ad Trajanem), XCVI, Documentos da Igreja Cristã, H. Bettenson, págs. 28 a 30, Editora ASTE.
10. Sentinela, 15 de dezembro de 1984, págs. 4-7, O Natal - por que é perigoso?
11. Tertuliano, Apologia, Capítulo 35, que pode ser visto em inglês no site http://www.ccel.org/ccel/schaff/anf03.iv.iii.xxxv.html
12. Tertuliano, Sobre a Idolatria, capítulo 10, que pode ser lido no site http://www.ccel.org/ccel/schaff/anf03.iv.iv.x.html
13. Apologia, Tertuliano, capítulo 42, que pode ser visto no site http://www.ccel.org/ccel/schaff/anf03.iv.iii.xlii.html
14. Contra Heresias, Ireneu de Lião, Livro 1, Capítulo 6, parágrafo 3.Editora Paulus.
15. Teófilo para Autolico, Livro III, capítulo 15
16. Orígenes, Contra Celso, livro 8, Capítulo 21
17. A epítome das institutas divinas, capítulo 63, que pode ser visto em inglês no site http://www.ccel.org/ccel/schaff/anf07.iii.ii.viii.lix.html
18. Contra os Gentios, Livro 7, capítulo 32, que pode ser visto em inglês no site http://www.ccel.org/ccel/schaff/anf06.xii.iii.vii.xxxii.html
19. Phillip Schaff, History of the Christian Church, Volume 3, que pode ser visto em inglês no site http://www.ccel.org/ccel/schaff/hcc3.iii.iv.i.html
20. Phillip Schaff, History of the Christian Church, Volume 3, que pode ser visto em inglês no site http://www.ccel.org/ccel/schaff/hcc3.iii.iv.i.html
21. Epístola aos Gálatas 2:11-14
22. An Online Encyclopedia of Roman Emperors, Link: http://www.roman-emperors.org/conniei.htm
23. "História da Teologia Cristã", 2001, Roger C. Olson, Ed. Vida, págs. 167 e 168
24. Clemente de Alexandria, Stromata I.21, que pode ser visto em inglês no site http://www.ccel.org/ccel/schaff/anf02.vi.iv.i.xxi.html
25. Catholic Enciclopaedia, Christmas. Link: http://www.newadvent.org/cathen/03724b.htm
26. Ibid.
27. Usener 1889, reimpresso em Usener 1911.
28. An Online Encyclopedia of Roman Emperors, Link: http://www.roman-emperors.org/aurelian.htm
29. Hijmans 2009, http://dissertations.ub.rug.nl/FILES/faculties/arts/2009/s.e.hijmans/vol1/09_c9.pdf
30. http://www.tertullian.org/fathers/chronography_of_354_06_calendar.htm
31. Cf. Degrassi 1963, 493 (8 e 9 de agosto), 503 (28 de agosto), 535-6 (11 de dezembro). Todas as datas são baseadas nas primeiras inscrições imperiais fasti. Não temos fontes comparáveis para datas festivas na cidade de Roma no período entre a última fasti (metade do primeiro século D.C.) e o calendário de 354. No Feriale Duranum, um calendário militar romano de Dura Europos, produzido por volta de 227 D.C., Sol não é mencionado.
32. Segundo Hijmans, não há evidências de celebrações anteriores do Sol em 25 de dezembro para dar base aos clamores de Juliano, e sua explicação para a data - poucos dias depois do solstício astronômico (nos dias de Juliano) - é desesperançosamente torcido e claramente fabricado já que não faria sentido algum em um calendário pré-Juliano dos dias de Numa.
33. Hijmans 2009, http://dissertations.ub.rug.nl/FILES/faculties/arts/2009/s.e.hijmans/vol1/09_c9.pdf
34. Ibid.
35. http://www.tertullian.org/fathers/chronography_of_354_12_depositions_martyrs.htm
36. Eusébio de Cesaréia, História Eclesiástica.
37. Hijmans 2009, http://dissertations.ub.rug.nl/FILES/faculties/arts/2009/s.e.hijmans/vol1/09_c9.pdf
38. Gregório Naziezano, "Sobre a Epifania, ou nascimento de Cristo", Link: http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf207.iii.xxi.html
39. Heresia 53
40. In Ezech. I.
41. Agostinho, A Trindade, Livro 4, capítulo 5, acessado em http://www.ccel.org/ccel/schaff/npnf103.iv.i.vi.vi.html.
42. "Pode um feriado pagão ser transformado em ‘cristão'?", acessado em http://www.watchtower.org/t/20071215/article_01.htm
43. Flávio Josefo, Guerra dos Judeus, livro 5, capítulo 5, parágrafo 1. Pode ser lido em inglês em http://www.ccel.org/ccel/josephus/works/files/war-5.htm
44. A tabela das leituras feitas pelos judeus em seus dias festivos pode ser encontrada aqui: http://www.milechai.com/judaism/torah-readings.html. A Chanucá normalmente envolve um sábado, mas pode envolver dois.
45. "Como Jesus Cristo deve ser lembrado?", acessado em http://www.watchtower.org/t/20041215/article_02.htm
46. "Jesus: Por que ele é tão importante?", acessado em http://www.watchtower.org/t/200612/article_02.htm
47. "Quem é o arcanjo Miguel?", acessado em http://www.watchtower.org/t/bh/appendix_11.htm
48. "Anjos, Como nos afetam", acessado em http://www.watchtower.org/t/20060115/article_02.htm
Comentários
Citação: Por isto ela é uma festividade opcional para o cristão.
E o cristão tem o direito de festejar qualquer aspecto da vida do Senhor.
Festejamos o nascimento? Sim, até os anjos festejaram.
Certamente isso foi feito porque o importante mesmo é pensarmos em Cristo quando estava em seu ministério e na sua ressurreição. Afinal, nascer todo mundo nasce.
Só acho interessante como as pessoas hoje em dia, que se dizem cristãs, dão mais valor ao Natal do que a Paixão, que de fato é o importante.
Sem falar nas tradições que se seguiram e que não tem nada a ver com Jesus como Papai Noel, a árvore de natal e presentes, sem falar na ceia.
Me parece que o Natal é sim uma festividade que só foi criada para aumentar o número de festividades no catolicismo e na Igreja Ortodoxa. E que têm um toquezinho pagão, assim como a Páscoa também foi paganizada com o coelho símbolo da fertilização.
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