• Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.

    Mateus 5:44,45

  • Disse-lhes ele: Por causa da vossa pouca fé; pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível

    .

    Mateus 17:20

  • Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai após a perdida até que a encontre?

    Lucas 15:4

  • Então ele te dará chuva para a tua semente, com que semeares a terra, e trigo como produto da terra, o qual será pingue e abundante. Naquele dia o teu gado pastará em largos pastos.

    Isaías 30:23

  • As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;

    João 10:27

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Verso do dia

Calvino e a depravação humana

Escrito por  João Calvino

2. A DEPRAVAÇÃO HUMANA É CONFIRMADA PELO QUE PAULO DIZ EM ROMANOS 3

Depravação humana

Em nada é mais branda a condenação do coração, quando se diz ser enganoso acima de todas as coisas e depravado [Jr 17.9]. Mas, visto que estou tentando ser breve, contentar-me-ei com apenas uma passagem, a qual, no entanto, haverá de ser como um espelho caríssimo, em que contemplamos a imagem integral de nossa natureza. Ora, o Apóstolo, quando quer lançar por terra a arrogância do gênero humano, o faz com estes testemunhos [Rm 3.10-16,18]: "Pois não há nenhum justo, não há quem tenha entendimento, ou que busque a Deus; todos se desviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, nem um sequer" [Sl 14.1-3; 53:1-3]; "sepulcro aberto é a garganta deles; com suas línguas agem dolosamente" [Sl 5.9]; "veneno de áspides há debaixo de seus lábios" [Sl. 140.3]; "dos quais a boca está cheia de maldição e amargor" [Sl 10.7]; "cujos pés são velozes para derramar sangue; em cujas veredas há destruição e infortúnio [Is 59.7]; "diante de cujos olhos não há temor de Deus" [Rm 3.18].

Com esses raios, o Apóstolo não está investindo apenas contra certos homens, mas contra toda a raça dos filhos de Adão. Nem está ele a censurar os costumes depravados de uma ou outra era, mas está acusando a perpétua corrupção de nossa natureza. Com efeito, nesta passagem, seu propósito não é simplesmente censurar os homens, para que caiam em si, mas antes, ensinar que todos têm sido pressionados por inelutável calamidade, da qual não podem sair, a não ser que sejam retirados pela misericórdia de Deus.

Visto que isso não podia ser provado, a não ser que fosse estabelecido da ruína e destruição de nossa natureza, ele evidenciou estes testemunhos, mediante os quais se convence de que nossa natureza está mais do que perdida. Portanto, fique isto demonstrado: os homens são tais quais aqui descritos, não apenas pelo vezo do costume depravado, mas ainda pela depravação de sua natureza. Porquanto não se pode de outra forma sustentar a argumentação do Apóstolo: não há para o homem nenhuma salvação, senão pela misericórdia do Senhor, porquanto, em si, ele está inexoravelmente perdido.

Não me darei aqui ao trabalho de provar a aplicabilidade desses testemunhos, para que não parecem, aos olhos de alguém, indevidamente usados pelo Apóstolo. Procederei exatamente como se essas coisas fossem originalmente ditas por Paulo, não tomadas dos profetas. Ele priva o homem, de início, da justiça, isto é, da integridade e da pureza; a seguir, do entendimento [Rm 3.10,11]. Ora, a carência de entendimento é demonstrada pela apostasia para com Deus, a busca de quem é o primeiro degrau da sabedoria. Mas essa deficiência necessariamente se acha naqueles que se têm afastado de Deus. Acrescenta em seguida que todos se têm transviado e se têm tornado como que putrefatos, que nenhum há que faça o bem; então adiciona as desonras com as quais contaminam a cada um de seus membros aqueles que uma vez se espojaram na dissolução. Finalmente, atesta que são vazios do temor de Deus, o que deveria ser a regra a dirigir-nos os passos.

Se forem estes os dotes hereditários do gênero humano, em vão se busca algo de bom em nossa natureza. Reconheço, sem dúvida, que nem todas essas abominações vêm à tona em cada ser humano, entretanto não se pode negar que esta hidra jaz oculta no coração de cada um. Ora, como o corpo, quando já mantém incubada em si a causa e matéria de uma doença, ainda que não efervesça a dor, por isso não se julgará ser sã nem mesmo a alma, enquanto borbulha em tais achaques de vícios, embora a comparação não se enquadre em todos os aspectos, porque, no corpo, por mais enfermo, subsiste um alento de vida; a alma, porém, imersa neste abismo fatal, não só padece desses achaques, mas ainda é inteiramente vazia de todo bem.

3. A GRAÇA DIVINA RESTRINGE A OPERAÇÃO DA DEPRAVAÇÃO HUMANA

Surge-nos de novo quase a mesma questão que foi anteriormente resolvida. Ora, em todos os tempos, alguns têm existido que, guiados pela natureza, têm-se inclinado para a virtude por toda a vida. Não levo em conta se nos costumes se possam notar neles muitos deslizes, uma vez que, pelo próprio empenho para com a honestidade, têm dado prova de que na natureza algo de pureza lhes subsistia.

De que valor se revestem diante de Deus virtudes desta espécie, embora tenhamos de discuti-lo mais plenamente onde se haverá de tratar dos méritos das obras, contudo, até onde se faz necessário à elucidação do presente argumento, também neste lugar se nos impõe falar do assunto. Portanto, estes exemplos nos parecem avisar, para que não pensemos ser de todo corrompida a natureza do homem, isto que, de sua inclinação, alguns não só excederam em sublimadas ações, mas até se conduziram com a máxima dignidade por todo o curso da vida. Contudo, aqui nos deve ocorrer que, por entre esta corrupção de nossa natureza, algum lugar há para a graça de Deus, não aquela que a expurgue, mas aquela que a coíba interiormente. Ora, se o Senhor permitisse à mente de cada um esbaldar-se de rédeas soltas em todos os desejos, sem dúvida ninguém haveria que, de fato, não propiciasse confirmação de que, mui verdadeiramente, em si concorreriam todas aquelas coisas más pelas quais Paulo condena toda a natureza [Rm 3.12].

E então? Porventura te eximes ao número desses cujos pés são velozes para derramar sangue [Rm 3.15], as mãos aviltadas em rapinas e assassinatos, a garganta semelhante a sepulcros abertos, a língua enganosa, os lábios pejados de veneno [Rm 3.13], as obras inúteis, iníquas, pútridas, letais, cuja mente é sem Deus, cujas entranhas são depravações, cujos olhos estão voltados para as insídias, o ânimo alçado para ultrajar; em suma, todas as partes engrenadas para infindas impiedades? Se, como o declara o Apóstolo, cada alma é sujeita a todas as abominações desta espécie, seguramente vemos o que haveria de ser, se o Senhor deixasse que a licenciosidade humana vagasse, conforme sua inclinação. Não há nenhuma fera raivosa que seja impelida tão absurdamente; rio nenhum, por mais caudaloso e violento, que o desbordamento seja tão impetuoso. Em seus eleitos, o Senhor cura estes achaques na maneira que logo exporemos; nos outros, aplicado um freio, apenas os coíbe, só para que não se arrojem a extremos, até onde antevê ser conveniente para a preservação da totalidade das coisas.

Daqui, uns são contidos pelo senso de vergonha, outros, pelo temor das leis, para que não se lancem a muitas espécies de torpezas, ainda que, em larga medida, não dissimulam sua impureza; outros, porque julgam ser de vantagem uma forma honesta de viver, a ela, de certa maneira, aspiram; outros se alteiam acima da condição vulgar para que, em virtude da própria importância, contenham os demais na linha da deferência apropriada.

E assim, mediante sua providência, Deus nos refreia a perversidade da natureza para que não irrompa em ação; entretanto, não a purifica interiormente.


5. SENDO CORROMPIDA A NATUREZA HUMANA, A VONTADE SE TORNA ESCRAVA DO PECADO

Portanto, a vontade se mantém presa por essa servidão do pecado, e não pode volver-se, muito menos aplicar-se ao bem, porque movimento desta natureza é o princípio da conversão a Deus, que nas Escrituras toda ela se atribui à graça de Deus. Por isso é que Jeremias [31.18] suplica do Senhor que converta a quem quiser converter. Donde, descrevendo no mesmo capítulo a redenção espiritual do povo fiel, o Profeta diz ser redimido pela mão de um mais forte [Jr 31.11], significando com isso de quão apertados grilhões está amarrado o pecador por todo o tempo em que, abandonado pelo Senhor, age debaixo do jugo do Diabo.

Entretanto, permanece a vontade que, com a mais acentuada inclinação, não só propende, mas até se apressa a pecar, uma vez que o homem, ao sujeitar-se a esta necessidade, não é privado da vontade, mas da sanidade da vontade. Com efeito, não se pronunciou inadequadamente Bernardo, que ensina subsistir em todos nós o querer – porém, querer o bem ser proveito; querer o mau, defeito. Isto é, simplesmente querer provém do homem: querer mal, da natureza corrompida; querer bem, da graça1. Além disso, ao afirmar que a vontade é despojada da liberdade, necessariamente ou arrastada ou conduzida para o mal, é de admirar se a alguém a expressão pareça enganosa, visto não ter qualquer coisa de dissonante, nem ser estranha ao uso dos santos. Contudo ofende aos que não sabem distinguir entre necessidade e compulsão.

Mas, se alguém lhes pergunta: porventura Deus não é necessariamente bom? Porventura o Diabo não é necessariamente mau? Que responderiam? Ora, a bondade de Deus é a tal ponto entrelaçada com sua divindade, que não lhe é mais necessário ser Deus do que ser bom. O Diabo, porém, em decorrência de sua queda, a tal ponto se alienou da comunhão do bem, que nada pode fazer senão o mal. Porque, se algum sacrílego resmunga que a Deus se deve pouco de louvor por sua bondade, a qual ele é compelido a conservar, não se lhe dará uma resposta imediata, a saber: que ele não pode fazer o mal em razão de sua imensa bondade, não por forçosa compulsão?

Portanto, não se impede que a vontade de Deus seja livre em fazer o bem, só porque ele por necessidade opera o bem; se o Diabo, que outra coisa não pode fazer senão o mal, entretanto peca por vontade, quem por isso dirá que o homem peca menos voluntariamente, uma vez que está sujeito à necessidade de pecar? Como Agostinho proclama por toda parte esta necessidade, ainda quando era odientamente afligido pela astúcia de Celéstio, contudo nem ainda vacilou em afirmá-la nestas palavras: "Ocorreu que o homem caiu em pecado pelo uso de sua liberdade; mas já que a corrupção que se seguiu veio como castigo, ele fez da liberdade uma necessidade"2. E sempre que ocorre nele menção desta matéria, não hesita em falar nesses termos acerca da servidão necessária do pecado.

Portanto, observe-se este ponto principal de distinção: o homem, como foi corrompido pela queda, certamente peca porque o quer, não contra a vontade, nem coagido; pela mui natural inclinação da mente, não por compulsão forçada pelo ardor de concupiscência pessoal, não por pressão externa; contudo, tudo faz por depravação da natureza, que não pode ser movido e impulsionado senão para o mal3. Se isso é verdadeiro, então não se expressa obscuramente que de fato o homem está sujeito à necessidade de pecar.

Subscrevendo a Agostinho, assim escreve Bernardo: "Entre as criaturas, só o homem é livre; e todavia, em intervindo o pecado, até mesmo ele sofre certa pressão, mas da vontade, não da natureza, de sorte que realmente assim não se priva da liberdade ingênita. Ora, o que é da vontade, é também livre"4. E pouco depois: "Desse modo, não sei por que modo depravado e estranho, mudada pelo pecado, em verdade para pior, a própria vontade para si engendra a necessidade, de modo que nem a necessidade, uma vez que provenha da vontade, pode escusar a vontade, nem a vontade, uma vez que tenha sido seduzida, pode excluir a necessidade". Pois esta necessidade é, de certa forma, produto da vontade. A seguir, diz que somos oprimidos por um jugo, contudo não outro jugo, senão certa servidão da vontade, razão por que somos miseráveis no tocante à servidão, indesculpáveis no que tange à vontade; assim a alma, de certa maneira estranha e deplorável, sob esta necessidade, há um tempo, decorrente da vontade e perniciosamente livre, afirma ser não só escrava, mas também livre: escrava, em função da necessidade; livre, em função da vontade; e, o que é mais estranho e mais deplorável: é culposa, por ser livre; e é escrava, por ser culposa; e, em decorrência disso, é escrava, quando é livre"5.

Daqui certamente os leitores reconhecem que não estou apresentando nada novo, ao contrário, apenas aquilo que, do senso comum de todos os piedosos, Agostinho publicou outrora, e por quase mil anos depois foi preservado nos claustros dos monges. Lombardo, porém, como não soubesse distinguir necessidade de compulsão, deu motivo a erro pernicioso6.

Institutas edicao classicaCALVINO, João. As Institutas. Edição Clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. 2. ed. vol. 2, pp. 58-60; 62-64.

Notas

1. "Da Graça e do Livre-arbítrio", capítulo vi

2. "Da Perfeição da Justiça", capítulo VI.

3. "Da Natureza e da Graça", capítulo LXVI, 79

4. "Sermão sobre Cântico dos Cânticos", capítulo LXXXI, 7

5. ibidem, capítulo LXXXI, 9

6. "Livro das Sentenças", livro II, dist. 25

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