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Os Pais da Igreja e o culto às imagens

Escrito por  Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs
Theotokos

a) Na época antenicena, os escritores eclesiásticos, de fato, não estavam dispostos a aceitar o uso e menos ainda o culto das imagens, mesmo se, na maioria das vezes, se expressassem indiretamente; tomam posição na luta contra a idolatria pagã e se fundamentam nos textos antifigurativos do AT. A verdadeira imagem de Deus é Cristo, depois o homem e a virtude que nele existe: o templo dos cristãos é o corpo do homem, santuário da imagem, ou então o universo. Às vezes sua rejeição da idolatria os leva a combater aquelas mesmas provas que mais tarde serão adotadas pelos defensores do culto das imagem.

Será preciso citar: Tertuliano ("De idolatria" 4,1; "Adv. Hermogenem" I,2) que também afirma ("De spectaculis" 23,5) que Deus, sendo a Verdade, não pode aceitar aquilo que é falso; Clemente de Alexandria ("Potr." IV, 62, 1-2) que afirma ("Strom." VII, V, 28-29) que Deus não pode ser circunscrito; Orígenes ("C. Cels." VII, 62-67), Minúcio Félix ("Octavius" 32), Lactâncio ("Inst. Div." II, 2). O concílio de Elvira, no início do séc. IV, proíbe no cân. 36 pôr pinturas nas igrejas. Um dos principais motivos é, portanto, constituído pelas proibições do AT, especialmente - já que o Decálogo é sempre válido na nova Aliança - por causa da proibição de fazer imagens que se encontra, como segundo mandamento, em Ex. 20,4-5 ou Dt. 5,8-9. De fato, a maior parte dos Padres anteriores a Agostinho segue a subdivisão dos judeus atestada por Fílon ("Quis rerum divinarum heres sit" 15, "De Decalogo" 23), que distingue os 4 mandamentos concernentes a Deus, o do amor aos pais (o V), depois 5 relativos ao próximo, reagrupando no X todos os pecados de desejo. Esta repartição é atestada por Teófilo de Antioquia ("Ad Autol.", II, 35), Clemente de Alexandria ("Strom." VI, XVI, 146,1), Orígenes ("Fragm. Eph." XXXI; "Com. Mt." XI, 9). Na Hom. Ex. XVII, 2, este último refere que para alguns este segundo mandamento é uma coisa só com o primeiro, mas é possível seja um esclarecimento do tradutor Rufino, contemporâneo de Agostinho.

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b) Nos sécs. IV e V. Dois casos isolados no séc. IV mostram decidida oposição às imagens. Eusébio de Cesaréia testemunha (HE VII, 18,2-4) ter visto em Paneas um monumento erigido pela hemorroíssa a Cristo, que a havia curado, monumento que a representava junto a Jesus - alguns pensam tratar-se realmente de Asclépio - bem como imagens pintadas de Pedro, de Paulo, de Jesus; não reprova com muita dureza os autores, atribuindo tais coisas aos usos pagãos. Contudo, quando a imperatriz Constância, irmã de Constantino e viúva de Licínio, quis obter dele uma imagem de Cristo, Eusébio recusou terminantemente, dizendo que agora a forma humana de Cristo está completamente divinizada e, portanto, não pode ser mais representada (PG 20, 1545-1550). Em uma carta a João de Jerusalém, traduzida para o latim por Jerônimo (51 na correspondência deste), Epifânio refere haver encontrado na Palestina, na igreja de uma aldeia, uma cortina em que estava pintada "a imagem Cristo ou de outro santo". Fiel à Escritura, rasga a cortina e pede a João que ponham fim a tais práticas, que são "contra a nossa religião".

("Dicionário Patrístico e de Antigüidades Cristãs", Ed. Vozes e Ed. Paulus, 2002, pág. 707/708)

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