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Motivos para o crescimento cristão dos primeiros séculos

Escrito por  Justo L. González, Carlos Cardoza Orlandi
samaritana

É uma verdadeira desventura que, dado seu próprio caráter, o trabalho de tais cristãos não seja mais bem conhecido, pois, sem dúvida, descobriríamos que sua contribuição para a expansão do cristianismo foi muito maior que as que os textos parecem indicar, e até maior que a das escolas e dos cristãos cultos.

Neste contexto, é importante destacar três elementos que, até data relativamente recente, não haviam recebido atenção dos historiadores. O primeiro deles é o papel das mulheres na expansão do cristianismo antigo. Não há dúvida de que, na igreja dos primeiros séculos, as mulheres eram muito mais numerosas que os homens. Isso parece ter acontecido por causa dos ensinamentos da igreja com respeito ao sexo. Ainda que, às vezes, indiretamente tais ensinamentos fomentassem na mulher um respeito que contrastava com as práticas da sociedade. Em consequência, eram muito mais frequentes os casos de mulheres convertidas ao cristianismo que logo traziam seus maridos e o restante da família para a igreja, que os casos em que o evangelho entrava em uma família por meio dos homens - e muito menos do pai da família. As redes de comunicação das mulheres em seus trabalhos diários foram então um dos principais canais pelo qual se divulgou a palavra do evangelho.

O segundo fator digno de menção é o impacto das epidemias sobre a população, bem como o modo com que a Igreja respondia a elas. Até meados do séc. II, teve início uma série de epidemias que repetidamente dizimaram a população. Isso contribuiu para o crescimento do cristianismo pelo menos de dois modos. Em primeiro lugar, porque os cristãos cuidavam melhor uns dos outros, os índices de sobrevivência entre eles eram maiores que para o restante da população. Em segundo lugar, nesses tempos se viu um contraste acentuado entre a maior parte da população, que fugia dos enfermos e apenas buscava a própria saúde, e os cristãos, que se dedicavam a cuidar não só de seus enfermos, mas de toda a comunidade. Por isso, são abundantes os testemunhos de pessoas cuja primeira atração ao cristianismo se deveu à obra de caridade dos crentes, ainda que com o risco de suas próprias vidas.

O terceiro fator digno de menção é o crescimento demográfico dos cristãos, em virtude de sua oposição ao aborto e ao infanticídio - práticas comuns e perfeitamente aceitas dentro da sociedade pagã. Ainda que as atitudes dos primeiros cristãos com relação a outros métodos de controle de natalidade não sejam claras, só a proibição do aborto e do infanticídio -e sua insistência em limitar as relações sexuais ao âmbito do casamento - levou a um índice de natalidade positivo, ainda que em meio a uma sociedade cujo índice era negativo - ou seja, natalidade menor que mortalidade.

História do movimento missionárioGONZÁLEZ, Justo L., ORLANDI, Carlos Cardoza, História do Movimento Missionário. São Paulo: Hagnos, 2008,pp. 67,68.

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