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Lutero - Um sermão sobre a preparação para a morte

Escrito por  Martinho Lutero
Ressurreição de Cristo

Um sermão sobre a preparação para a morte

Martinho Lutero, 15191

 

Primeiro. Por ser a morte uma partida deste mundo e de todos os seus negócios, é necessário que o homem organize seus bens temporais, como for apropriado ou como pretende administrá-los, para que depois de sua morte não fique nenhuma razão de disputa, discórdia ou até mesmo uma dúvida na família do falecido. Esta é uma partida corporal ou exterior deste mundo; aqui posses e bens são deixados.

Segundo. Deve-se também tomar uma partida espiritual, isto é deve-se amigavelmente, puramente pelo amor de Deus, perdoar todas as pessoas, tanto quanto eles poderiam também ter nos ferido. Deve-se também ao contrário, puramente pelo amor de Deus, desejar de todas as pessoas o perdão; pois sem dúvidas ferimos muitos deles, pelo menos com maus exemplos ou com poucos atos de bondade, como seríamos responsáveis pela Lei por dar amor fraterno e cristão. Devemos fazer isto para que a alma não fique aflita na terra por qualquer disputa.

Terceiro. Quanto se der tal despedida para todos na terra, deve-se então se dirigir somente a Deus. Pois para lá se dirige e nos conduz o caminho da morte. E precisamente aqui começa a porta estreita, o estreito caminho para a vida; o qual cada um deve se aventurar alegremente. Pois talvez ele seja muito estreito, mas não é longo; acontece aqui, como quando se dá a luz a uma criança saindo do pequeno quarto no corpo de sua mãe com perigo e medo para este grande espaço de céu e terra, ou seja, deste mundo: da mesma forma passam as pessoas através da estreita porta da morte deixando esta vida, e apesar de que o céu e o mundo, para onde nós viemos viver agora, parecem grandes e largos, são todos no entanto tão estreitos e pequenos em comparação com o futuro céu como é o corpo da mãe em comparação com este céu. Por isto a querida morte santa é chamada de um novo nascimento, e seu dia de festa é chamado em Latim de "natale"2, seu aniversário. Mas a estreita passagem da morte faz parecer a nós que esta vida é ampla e aquelas são apertadas. Por isto se deve crer nisto e aprender isto com o nascimento carnal de uma criança. Assim disse Cristo: "Uma mulher, quando dá a luz, é tomada de medo; mas quando ela se recupera, não pensa mais no medo, pois um homem nasceu no mundo dela" (João 16:21). Da mesma forma deve-se também na morte se livrar do medo e saber que depois disto haverá um grande espaço e alegria.

Quarto. Tal voltar-se e preparar-se para esta viagem consiste sobre tudo em: se confessar sinceramente, especialmente os pontos principais que se encontram até agora na memória com o esforço possível, e procure os santos sacramentos cristãos do santo e verdadeiro corpo de Cristo e a unção3, busque-os piedosamente e os receba com grande confiança, quando se pode os receber. Se este não for o caso, o simples anseio e desejo por eles deve, mesmo assim, trazer consolo a alguém, e não se deve apavorar demais sobre isto. Cristo disse: "Todas coisas são possíveis àqueles que crêem" (Marcos 9:23); pois são também os Sacramentos nada mais do que sinais, que servem e incitam à fé, como nós veremos, e sem esta fá eles não possuem utilidade.

Quinto. Deve-se de qualquer forma olhar com toda seriedade e diligência para que os santos sacramentos sejam grandemente estimados e em honra mantidos; confiar livremente e alegremente neles e considerá-los tão opostos ao pecado, morte e inferno, que eles de longe possuem a prevalência. Também deve-se ocupar muito mais com os sacramentos e seu poder do que com o pecado. Mas como merece bem honra e de que consiste este poder, deve-se saber. A honra consiste que eu acredite, que o que o sacramento significa e tudo que Deus diz e indica são verdadeiros e são concedidos a mim; deve-se também falar junto com Maria, a mãe de Deus, com firme fé: "Cumpra-se em mim segundo sua palavra e sinal" (Lucas 1:38). Pois como Deus aqui fala e dá sinais através do sacerdote, não se poderia fazer maior desonra a Deus em Sua palavra e obra, do que duvidar se eles são verdadeiros, e não se poderia fazer maior honra do que acreditar que são verdadeiros, e confiar nisto livremente.

Sexto. Para reconhecer o poder dos sacramentos, deve-se saber antes as injúrias contra as quais eles lutam e contra que eles nos são dados. São três: a primeira é a aterrorizante imagem da morte, a segunda é a pavorosa e variada imagem do pecado, a terceira a intolerável e inescapável imagem do inferno e da condenação eterna. Agora cada um destes três cresce e se torna maior e forte através da adição de algo a mais.

A morte se torna maior e horrível porque a natureza rece osa e desanimadora desta figura se fixa profundamente na memória, se apresenta exageradamente diante dos olhos. Para isto contribui também o diabo com sua parte, para que o homem se aprofunde na terrível visão e imagem da morte e através disto fique depressivo, sensível e medroso. Aí o Diabo apresentará provavelmente todos os casos de morte terríveis, abruptos e maus, os quais uma pessoa viu, ouviu ou leu; além disto ele incluirá como a ira de Deus no passado atormentou e arruinou os pecadores. Assim quer ele compelir a natureza medrosa para que ela tema a morte e ame a vida e por ela se preocupe; através disto deve o homem se carregar demasiadamente com tais pensamenos, esquecer-se de Deus, escapar e odiar a morte e também no final se mostrar e ficar desobediente. Pois quanto mais profunda a morte é tratada, vista e reconhecida, mais difícil e apreensivo é o morrer. Na vida deveria-se ocupar com o pensamento sobre a morte e confrontá-lo, enquanto ele ainda está longe e ainda não nos angustia; contudo na morte, quando ela por si só já é bastante forte, é perigoso e não possui utilidade. Aí deve-se banir sua imagem dos sentidos e não querer vê-la, como nós ouviremos. Assim a morte tem seu poder e força no temor de nossa natureza e que inoportunamente a encaramos ou consideramos demais.

Sétimo. O pecado cresce e se expande igualmente por que se encara ele demais e se reflete muito profundamente sobre ele; para isto contribui o temor de nossa consciência, a qual se envergonha diante de Deus e faz terríveis acusações de si. Com isto então o Diabo encontrou uma sauna4 do jeito que ele procurava: aí ele o pressiona; aí ele faz os pecados tão numerosos e tão grandes; aí ele colocará diante dos olhos todos que pecaram e quantos foram condenados com menos pecados. Então o homem deve mais uma vez desesperar ou ficar relutante com a morte, e deve consequentemente esquecer de Deus e se mostrar estando desobediente até a morte. Isto é resultado sobretudo de que o homem acha que ele deveria agora concentrar-se no pecado e é bom e útil ocupar-se disto; então aí encontra-se ele tão despreparado e incapaz que também todas as suas boas obras se tornam pecados. Disto deve-se seguir então um morrer relutante, desobediência contra a vontade de Deus e condenação eterna. Pois o exame do pecado não é bom e não tem tempo para ser feito ao morrer, isto deve-se fazer durante o tempo de vida. Assim o espírito maligno nos distorce todas as coisas: na vida, onde nós deveríamos ter as imagens da morte, do pecado e do inferno diante dos olhos (como está no Salmo 51:5: "Meus pecados estão sempre diante dos olhos"), ele fecha nossos olhos e obscurece cada uma destas imagens; na morte, onde deveríamos ter apenas a vida, a graça e as bênçãos diante dos olhos, então fecha ele primeiro nossos olhos para isto e nos angustia com a chegada de imagens inapropriadas, com as quais não se deve ver as corretas imagens.

Oitavo. O inferno se torna grande e cresce da mesma forma por que exageradamente o encaramos de forma imprópria o consideramos firmemente. Para isto contribui muito excepcionalmente que não se sabe o julgamento de Deus e que o espírito maligno compele a alma para que ela se sobrecarregue com supérflua e inútil ousadia, sim com a todo perigoso atrevimento; ela deve investigar o segredo da Providência divina, se ela pertence aos eleitos ou não. Aqui o Diabo opera sua última, maior e mais astuta habilidade e capacidade. Pois com isto ele leva o homem a se colocar acima de Deus, se este não se atentar, de modo que ele procure sinais da vontade divina e não a queira tolerar, para que ele não saiba se ele pertence aos eleitos; ele o faz suspeitar de seu Deus, de forma que ele quase deseje um outro deus; em resumo, ele pretende aqui extinguir o amor a Deus com uma tempestade e despertar o ódio contra Deus. Quanto mais o homem segue o Diabo e tolerar tal pensamento, mais perigo corre ele e finalmente não poderá mais perseverar; ele cairá no ódio e heresia contra Deus. Pois se eu quero saber se sou escolhido, que outra coisa não é querer saber tudo que Deus sabe e querer ser igual a Ele? Ele não saberá nada mais além de mim, e Deus não deverá com isto ser mais Deus, já que Ele não tem permissão5 de saber mais do que eu. Aí o Diabo mostra quantos gentios, judeus e crianças cristãs são perdidas e os estimula tanto com tais pensamentos perigosos e fúteis, que o homem, mesmo que ele fosse normalmente morrer de bom grado, ainda carregaria neste ponto uma relutância. Se o homem é tentado com o pensamento de sua predestinação, isto quer dizer que ele é tentado com o inferno; sobre isto dominam nos salmos várias queixas. Quem aqui vencer, sobrepujou aqui de uma vez o inferno, o pecado e a morte.

Nono. Então deve-se nesta luta usar toda a diligência, para que não se convide estas imagens para dentro de casa e não se pinte o diabo sobre as portas6. Elas por si só vão irromper com grande força e ocupar completamente o coração com sua visão, sua disputa e demonstração. Se isto acontecer, então o homem estará perdido e se esquecerá completamente de Deus; pois estas imagens não pertencem de nenhuma outra forma a este tempo [onde se lida com a preparação para a morte], que não para lutar com elas e as expulsar. Sim, se então elas estiverem sozinhas, sem que se veja através delas outras imagens, então não pertencem a nada além do inferno sob os diabos.

Quem então quiser lutar de forma bem sucedida com elas e quiser expulsá-las, não lhe será suficiente iniciar o assunto e prolongá-lo, disputar e contender; pois elas serão mais fortes que ele e ficará cada vez pior. O jeito é deixá-las desaparecer completamente e não ter mais nada com elas. Mas como isto acontece? Acontece assim: Você deve considerar a morte em ligação com a vida, o pecado em ligação com a graça, o inferno em ligação com o céu e não deveria deixar de buscar este tipo de consideração ou imagem, mesmo que todos os anjos, todas as criaturas, até mesmo que (como talvez deva ocorrer a você) o próprio Deus queira apresentar a você outra coisa (que eles no entanto não fazem; mas sim o espírito maligno que provoca tais aparências). Como deve-se atacar isto?

Décimo. Você não deve considerar ou contemplar a morte em ou por si, também não em você ou em sua natureza, também não naqueles, que são mortos através da ira de Deus e que a morte dominou. Ou então você estará perdido e será dominado juntamente com eles. Pelo contrário, você deve desviar seus olhos, os seus pensamentos do coração e todos os seus sentidos à força de sua imagem e considerar a morte de forma forte e diligente apenas naqueles, que estão mortos na graça de Deus e dominaram a morte, sobretudo em Cristo, depois em todos os seus santos. Veja, nestas imagens a morte para você não se tornará em terror ou pavor, antes desprezada e morta e através da vida suprimida e dominada. Pois Cristo não é nada mais que pura vida e seus santos também. Quanto mais profundo e firme você inculcar e considerar esta imagem, mais cairá a imagem da morte e desaparecerá por si mesma, sem que se inicie tudo e o prolongue, dispute e contende; e assim seu coração terá paz e poderá com Cristo e em Cristo morrer, como está escrito em Apocalipse 14:13: "Bem-aventurados são aqueles que morreram no Senhor Cristo". Sobre isto Números 21:9 indica: Quando os filhos de Israel foram mordidos pelas cobras venenosas, não deviam combater estas cobras, mas sim deviam considerar a cobra morta de bronze; aí caíam as vivas por si mesmas e pereciam. Da mesma forma você deveria se preocupar também apenas com a morte de Cristo; então você encontrará a vida. Se você no entanto considerar a morte e outro lugar, ela te matará através de grande angústia e tormento. Sobre isto diz Cristo: "No mundo terão tribulações, mas em mim a paz". (João 16:33)

Décimo primeiro. Da mesma forma você não deve considerar o pecado no pecador e também na consciência; também não naqueles que ficaram por fim no pecado e foram perdidos; então você ficará certamente para trás e será dominado. Antes você deve desviar seus pensamentos disto e considerar o pecado apenas na imagem da graça; você deve inculcar esta imagem com todo poder e ter diante dos olhos. A imagem da graça não é nada além de Cristo na cruz, e todos seus queridos santos. Como se entende isto? Isto é graça e misericórdia, que Cristo na cruz toma seus pecados, os leva para você e os sufoca. E crer firmemente nisto e ter diante dos olhos e não duvidar disto: isto é considerar a imagem da graça e a inculcar. Da mesma forma assumem todos os santos também em seus corpos e mortes seus pecados e sofrem e trabalham por você, como está escrito: "Um traz a carga do outro, assim vocês cumprem a Lei de Cristo" (Gálatas 6:2). Da mesma forma fala ele mesmo: "Venham a mim todos que estão sobrecarregados e se esforçam, eu quero vos ajudar" (Mateus 11:28). Veja, assim você pode considerar seus pecados sem perigo fora de sua consciência; veja, aí são os pecados não mais pecados, aí são eles dominados e em Cristo afogados. Isto significa que ele toma sua morte sobre si e a sufoca, para que ela não te possa ferir, se você de outra forma acredidar que ele fez isto para você, e considerar sua morte nele, não em você; da mesma forma toma ele também seus pecados sobre si e prevalesce sobre eles para você de pura graça em Sua justiça. Se você acreditar nisto, então não farão mais mal a você. Assim é Cristo, a imagem da vida e da graça, nossa consolação contra a imagem da morte e do pecado. Isto diz Paulo: "Louvor e Graças a Deus, pois Ele deu a nós em Cristo vitória sobre o pecado e a morte" (1 Coríntios 15:57)

Décimo segundo. Você não deve considerar o inferno e a eternidade do tormento aos quais se condenam, junto com a questão de sua predestinação; você não deve se preocupar sobre várias pessoas no mundo inteiro, que não estão predestinadas para a salvação. Se você não tiver cuidado, então esta imagem rapidamente te tombará e trará ao chão. Por isto você deve aqui usar força e firmemente fechar os olhos diante desta visão. Pois ela não é útil, mesmo que você lide com ela por mil anos, de uma vez ela te traz para a perdição. Contudo você deve deixar Deus ser Deus, pois Ele sabe mais de você que você mesmo. Para isto considere a imagem celestial, Cristo: Ele foi por sua causa para o inferno e foi abandonado por Deus, como se fosse ele um dos que se perderam eternamente, como Ele na cruz diz: "Eli, eli, lama asabthani" "Ó meu Deus, ó meu Deus, por que me abandonaste?" (Mateus 27:46). Veja, nesta imagem seu inferno é vencido e sua desconhecida eleição é feita conhecida; pois se você se atentar apenas sobre isto e se acreditar que isto acontece com você, então você certamente será salvo nesta crença. Então não deixe esta imagem ser tirada de seus olhos e se procure apenas em Cristo, não em você mesmo, assim você se encontrará eternamente nele. De tal forma você deve considerar Cristo e todos seus santos e se deixar deleitar na graça de Deus, que assim os escolheu, e ficar apenas firme neste deleite: então você também já estará escolhido. Mas Ele diz em Gênesis 12:3: "Todos que te abençoam, serão abençoados". Se você não ficar aqui apegado apenas a isto, mas sim recair, então despertará em você um aborrecimento contra Deus e seus santos, e você então não encontrará nada de bom em você. Guarde-se contra isto; pois o espírito maligno te compelirá para lá com muitos artifícios.

Décimo terceiro. Juízes 7 indica estas três imagens ou formas de luta. Aí Gideão atacou os midianitas durante a noite com trezentos homens em três lugares; contudo ele fez nada mais do que mandar tocar trompete e quebrar jarros de barro com tochas dentro, assim que os inimigos fugiram e se estrangularam. Da mesma forma fogem a morte, o pecado e o inferno com todo seu poder, quando nós nos exercitamos à noite apenas nas imagens iluminadas de Cristo e seus santos e a isto nos encorajamos e nos fortalecemos com a Palavra de Deus como com trompetes. Assim Isaías usa mesmo estes acontecimentos figurados muito belos contra as mesmas três imagens, nas quais ele fala de Cristo: "A carga de seus fardos, a vara em suas costas, o cetro de seu opressor, você os tem vencido como no tempo do midianita, Gideão os venceu" (Isaías 9:4). Isto é como se ele quisesse dizer: "O pecado de seu povo (esta é uma pesada "carga de seus fardos" em sua consciência) e a morte (esta é uma "vara" ou punição, que bate em "suas costas") e o inferno (que é um "cetro" e meio de violência do "opressor", com que o pagamento eterno pelos pecados é exigido) - isto tudo você tem vencido, como antigamente aconteceu no tempo dos midianitas, ou seja através da fé, com a qual Gideão espandou os inimigos sem um golpe de espada".

Quando ele fez isto? Na cruz. Pois ali ele se preparou para nós como uma imagem tripla; que devemos apresentar a nossa fé contra as três imagens, as quais o espírito maligno e nossa natureza nos atormentam para nos tirar de nossa fé. Ele é a vívida e imortal imagem contra a morte; pois Ele a sofreu mas a venceu em Sua vida através de sua ressurreição dos mortos. Ele é a imagem da graça de Deus contra o pecado; pois Ele o tomou sobre si e o venceu através de Sua inabalável obediência. Ele é a imagem do céu; pois enquanto Ele foi perdido como um réprobo de Deus e venceu o inferno através de seu todo-poderoso, testifica Ele, que Ele é o mais amado Filho e que para todos nós o mesmo de forma distinta é dado, se nós assim acreditarmos.

Décimo quarto. Acima de tudo Ele não apenas venceu em si mesmo o pecado, a morte e o inferno e nos apresentou isto à fé, mas também para um conforto ainda maior Ele também sofreu e venceu a angústia que temos nestas imagens. Ele da mesma forma que nós foi muito atormentado com a imagem da morte, do pecado e do inferno. Apresentaram a imagem da morte a Ele, quando os judeus disseram: "Que desça agora da cruz! Ele deixou outros saudáveis; agora ajude a si mesmo!" (Mateus 27:40,42; Marcos 15:30) Foi como se dissessem: "Aí, aí, viu a morte? Você deve morrer; nada pode ser feito"; de tal forma o diabo coloca a imagem da morte diante de uma pessoa moribunda e choca a natureza temerosa com a terrível imagem.

Apresentaram a imagem do pecado a ele: "Ele fez outros saudáveis; se Ele é o Filho de Deus, então desça" (Mateus 27:40.42). Isto é como se dissessem: "Suas obras foram falsas e puras fraudes; ele é o filho do diabo e não o Filho de Deus; ele é dele de corpo e alma. Ele nunca fez algo bom, apenas coisas puramente más".

A imagem do inferno foi lançada sobre Jesus quando eles disseram: "Ele confia em Deus, vamos ver se Ele o salva; ele bem disse que era Filho de Deus" (Mateus 27:43). Isto é como se eles dissessem: "Ele merece o inferno; Deus não o determinou para a salvação; ele está condenado eternamente. Aqui não há confiança ou esperança, tudo isto é em vão".

E como estes judeus lançaram sobre Jesus estas imagens sem ordem entre elas, da mesma forma as pessoas são importunadas por elas de uma vez desordenadamente, para que ele caia em confusão e desespere imediatamente. Neste sentido o Senhor descreve a destruição de Jerusalém: seus inimigos a cercarão com uma trincheira, da qual não se poderá sair; esta é a morte. Eles a amedrontará e pressionará em canto, de forma que não se poderá ficar em lugar algum; este é o pecado. Em terceiro lugar, eles a arrasarão e não deixarão pedra sobre pedra; este é o inferno e o desespero.

Agora vemos que Cristo fica em silêncio diante de todas estas palavras e imagens assustadoras; Ele não luta contra elas; ele age como se não as ouvisse ou visse, e também não dá resposta. Antes ele se atentou somente à mais querida vontade de Seu Pai, tão completamente que ele esqueceu sua morte, seus pecados e seu inferno, os quais foram lançados sobre Ele, e por eles pediu, por sua morte, por seus pecados e inferno.

Da mesma forma devemos também deixar estas imagens nos atacar e nos abandonar, como elas queiram ou possam, e estar apenas preocupado que nós participemos da vontade de Deus, quer dizer que nós nos unamos a Cristo e creiamos firmemente que nossa morte, nossos pecados e inferno seja vencidos por Ele para nós e não possam nos machucar. Assim somente a imagem de Cristo deve estar em nós e somente com ele nós devemos discutir e negociar.

Décimo quinto. Voltamos agora aos santos sacramentos e seu poder, para que aprendamos, para que são bons e para que são necessários. A quem agora são concedidos a graça e o tempo, para que receba confissão e absolvição, comunhão e extrema-unção, tem bom motivo para a Deus amar, louvar e agradecer e então morrer alegremente, se diferentemente ele confiar e acreditar nos sacramentos de forma consoladora, como foi dito acima. Pois seu Deus, o próprio Cristo, através do sacerdote lida, conversa e opera nos Sacramentos com você; aí não há obras ou palavras humanas, aí o próprio Deus promete a você todas as coisas que agora mesmo foram ditas de Cristo. Ele quer que os sacramentos sejam um sinal de verdade e um certificado disto: a vida de Cristo deve ter tomado sobre si e vencido sua morte, Sua obediência deve ter tomado sobre si e vencido seu pecado, Seu amor deve ter tomado sobre si e vencido seu inferno. Com isto você foi inserido e unido através destes sacramentos com todos os santos em um corpo e veio para a verdadeira comunhão dos santos, de forma que eles morrem contigo em Cristo, trazem o pecado e vencem o inferno. Disto segue que os sacramentos são um grande consolo e igualmente um sinal visível do propósito de Deus. Deve-se apegar a ele com uma fé firme como se fosse um bom cajado, igual àquele que o patriarca Jacó atravessou o Jordão (Gênesis 32.10), ou como se fosse uma lanterna, na qual se guia e se deve observar com todo cuidado o caminho escuro da morte, do pecado e do inferno, como o profeta disse: "Sua Palavra, Senhor, é uma luz para meus pés" (Salmo 119:105), e São Pedro: "Nós temos uma correta Palavra de Deus, e vocês farão bem se atentarem para ela [como se fosse uma luz]" (1 Pedro 1:19). Senão ele não poderá ajudar em nada na aflição da morte, e somente com este sinal tudo que se salva é salvo. Ele indica Cristo e sua imagem, para que você possa falar contra a imagem da morte, do pecado e do inferno: "Deus fez para mim sua promessa e deu um verdadeiro sinal de sua graça no sacramento: A vida de Cristo deve ter vencido minha morte em sua morte, sua obediência deve ter destruído meu pecado em seu corpo, seu amor deve ter destruído meu inferno em seu abandono. Este sinal (a promessa, que eu serei salvo) não mentirá para mim nem me enganará. Deus o pronunciou; Deus não pode mentir, nem em palavras nem em atos". Quem assim insistir e depender do sacramento, sua eleição e predestinação para a salvação se encontrarão por si mesmas sem preocupação ou esforço.

Décimo sexto. Agora importa aqui sobretudo que se tenha em alta estima, honre e confie nos santos sacramentos, nos quais acontecem as puras palavras, promessas e sinais de Deus. Isto quer dizer: não se deve duvidar nem dos sacramentos nem das coisas que eles são sinais certos. É que se duvida disto então tudo está perdido. Pois assim como nós cremos tal nos acontecerá, como Cristo disse (Mateus 21:21). O que adiantaria se você concebesse e acreditasse que a morte, o pecado e o inferno dos outros são vencidos em Cristo? Se você não acreditar também que sua morte, seu pecado e seu inferno é vencido e destruído ali por você e você assim foi salvo, então o sacramento seria totalmente em vão, porque você não acredita nas coisas que são indicadas, dadas e pronunciadas para você ali. Este é, no entanto, o pecado mais terrível que pode acontecer; pois por causa dele o próprio Deus é tido como mentiroso em Sua palavra, sinais e obra, já que Ele seria alguém que disse, indicou e prometeu algo que ele não tinha em mente ou não quis cumprir. Por isto não se deve brincar com os sacramentos; deve ali fé, que confia e se aventura alegremente nestes sinais e promessas de Deus. Que Salvador ou Deus seria este, que não pudesse ou quisesse nos salvar da morte, do pecado ou do inferno! Deve ser algo grandioso, o que o verdadeiro Deus promete e faz.

Agora vem então o diabo e cochicha para você: "E como seria se eu recebesse então o sacramento de forma indigna e se eu fosse privado destas graças por causa de minha indignidade?" Aqui se faz a cruz7, e não se deixe perturbar em nada pela dignidade ou indignidade. Trate apenas de crer que sejam sinais certos, verdadeiras palavras de Deus; então você será e estará bastante digno. Fé torna digno, dúvida torna indigno. Por isso o espírito maligno quer te inventar uma outra dignidade e indignidade, para induzir uma dúvida em você e com isto anular os sacramentos com seus efeitos e fazer de Deus um mentiroso em Suas palavras.

Deus não dá nada por causa de sua dignidade. Ele também não edifica Sua palavra e sacramento sobre sua dignidade, mas sim de pura graça Ele edifica você, um indigno, sobre sua palavra e sinais. A isto se mantenha apenas firme e diga: "Aquele que me deu e me dá Seu sinal e palavra, que a vida, graça e céu de Cristo fez para mim inócuos minha morte, meu pecado e inferno, Aquele é Deus; que de fato manterá as promessas para mim. Se o sacerdote me absolveu, então eu confio nisto assim como na própria palavra de Deus. Se é pois palavras de Deus, então devem ser verdadeiras; sobre isto ficarei, sobre isto morrerei". Pois você deve igualmente confiar firmemente na absolvição do sacerdote, como se Deus enviasse a você um anjo ou apóstolo especial, sim, como se o próprio Cristo te absolvesse.

Décimo sétimo. Veja, tal vantagem tem aquele que recebe o sacramento: ele recebe um sinal e uma promessa de Deus, onde ele pode exercitar e fortalecer sua fé, que ele foi chamado na imagem e bens de Cristo. Os outros sem estes sinais, pelo contrário, devem se esforçar somente com a fé e receber apenas com o anseio de seus corações; apesar de serem também salvos, se eles se mantiverem firmes nesta fé.

Você deve igualmente dizer do sacramento do altar: "O sacerdote me deu o santo corpo de Cristo; este é um sinal e uma promessa da comunhão com todos os anjos e santos, que me amam, se preocupam comigo, intercedem por mim e comigo sofrem, morrem, trazem os pecados e vencem o inferno; pois deve e será também assim. O sinal divino não me engana e não deixo que o tomem de mim. Prefiro negar todo o mundo e eu mesmo, do que duvidar que meu Deus me é certo e verdadeiro nestes seus sinais e promessas. Goste eu ou não de ser digno para ele, de qualquer maneira eu sou um membro da cristandade com base no palavreado e sinal deste sacramento. É melhor ser indigno do que não ter Deus como verdadeiro. Afaste-se diabo, se você me disser algo diferente."

Agora veja, se encontra muitas pessoas que adorariam estar certos ou ter um sinal do céu sobre como está sua situação com Deus, e adorariam saber sua predestinação para a salvação. Mas se eles já recebem tal sinal e não acreditam neles, de que lhes adiantaria? De que adiantaria todos sinais sem fé? De que adiantou aos judeus os sinais de Cristo e dos apóstolos? De que adianta ainda hoje os veneráveis sinais dos sacramentos e da palavra de Deus? Porque eles não se apegam aos sacramentos, que são sinais certos e instituídos? Eles são provados e testados por todos os santos e foram considerados confiáveis por todos aqueles que acreditaram neles e que receberam o que eles indicavam. Devemos aprender a reconhecer os sacramentos desta forma: o que eles são, para que servem e como deve-se usá-los; então descobriremos que não há nada maior na terra, que possa consolar amigavelmente corações perturbados e más consciências. Pois nos sacramentos estão contidas as palavras de Deus; que servem para nos indicar e prometer Cristo com todo seus bens (que são Ele mesmo) contra a morte, os pecados e o inferno. Agora não se pode ouvir nada mais amigável e desejável que a destruição da morte, do pecado e do inferno; mas isto acontece em nós através de Cristo, se usarmos corretamente o sacramento. Este uso correto consiste em nada além da fé que é assim como o Sacramento promete e jura através da palavra de Deus. Para isto é útil que não se considere apenas as três imagens em Cristo e com elas exorcisar e deixar ruir as imagens contrárias, mas sim que se tenha um sinal certo, que nos assegure que nos foi dado desta forma: estes são os sacramentos.

Décimo oitavo. Nenhum cristão deve em seu fim duvidar que ele não está sozinho em sua morte, mas ele deve sim estar certo que como o sacramento indicou, muitos olhos o observam. Primeiro os próprios olhos de Deus e de Cristo, pois ele acredita em Sua palavra e depende de Seu mandamento; depois os amáveis anjos, os santos e todos cristãos. Pois, como o sacramento do altar revela, não há dúvida que todos estes vêm para ajudá-lo a vencer a morte, o pecado e o inferno e carregar tudo com ele. Ali está seriamente e poderosamente em movimento a obra do amor e comunhão dos santos, e um cristão também deve ter isto diante dos olhos e não ter dúvidas disto. Disto então ele fica encorajado para a morte. Pois quem duvida disto, mais uma vez não acredita no venerável sacramento do corpo de Cristo, no qual contudo comunhão, ajuda, amor, confiança e assistência são indicados, prometidos e jurados de todos os santos em todas as dificuldades. Pois se você crê nos sinais e palavras de Deus, então Deus te observa, como Ele diz no Salmo 32:8: "Eu quero direcionar meus olhos continuamente a você, para que você não sucumba". Mas se Deus te observa, então todos os anjos, todos os santos e todas as criaturas observam como Ele, e se você se mantém nesta fé, então todos eles te sustentam com as mãos. Saindo sua alma de você, então estarão eles ali e a receberão; você não pode perecer. Isto é testificado por Eliseu, que disse para seu servo: "Não tema; são mais os que estão conosco do que com eles" (2 Reis 6.16). E contudo os inimigos os cercaram, e eles não viam mais ninguém. Mas Deus abriu os olhos do servo; estava ali ao redor deles uma horda maior de cavalos e carruagens flamejantes. Da mesma forma isto também é certo em volta daquele que acredita em Deus. Aqui se refere então o provérbio, Salmo 34:8: "O Anjo de Deus se estabelecerá em volta daqueles que temem a Deus e os salvará". Salmo 125:1: "Aqueles que confiam em Deus serão inabaláveis como o monte Sião; que permanecerá eternamente. Altos montes (ou seja anjo) estão em seu redor, e o próprio Deus cerca Seu povo de agora até a eternidade". Salmo 91:11: "Ele te confiou aos Seus anjos; em suas mãos devem eles te carregar e preservar, para onde quer que você vá, para que você não tropece em alguma pedra. Sobre cobras e basiliscos você poderá andar e sobre leões e dragões você poderá pisar (ou seja, toda força e engano do diabo não te farão mal); pois ele confiou em mim. Eu o quero salvar, eu quero estar ao seu lado em todos os seus desafios, eu o quero ajudar e o honrar, eu quero saciá-lo com eternidade, eu quero revela-lhe minha graça eterna". Da mesma forma diz também o apóstolo8, que os anjos, que são incontáveis, são sempre subservientes e são enviados para o bem daqueles que são salvos.

Estas são todas grandes coisas. Quem pode crer nisto? Para isto deve-se saber que estas são obras de Deus. Elas são maiores do que alguém pode imaginar, e no entanto Ele as faz em tão pequenos sinais, nos sacramentos, para nos ensinar, que grande coisa é uma fé correta em Deus.

Décimo nono. Ninguém deve se arrogar ser capaz de fazer estas coisas de seu próprio poder, mas deve sim humildemente pedir a Deus que Ele crie e preserve em nós tal fé e tal entendimento de seus santos sacramentos, para que prossigamos com temor e humildade e não atribuamos a nós estas obras, mas sim deixemos a honra a Deus. Para isto o homem deve chamar todos os santos anjos, especialmente seu anjo protetor, a mãe de Deus, todos os apóstolos e amados santos, especialmente aqueles para os quais Deus lhe deu especial devoção. Mas ele deve então pedir, que ele não duvide que sua oração seja ouvida. Para isto ele possui dois motivos. Primeiro, ele acabou de ouvir das Escrituras, como Deus os ordenou e como o sacramento concede que todos devem amar e ajudar aqueles que crêem. Isto deve-se apresentar a eles e proceder; não como se eles não o soubessem ou então não fizessem, mas sim para que a fé e a confiança neles e através deles em Deus se torne mais forte e alegre, para que a morte suma das vistas. Segundo, Deus ordenou que se nós quisermos orar, devemos certamente acreditar firmemente que acontecerá o que nós pedirmos, e deve-se dar um verdadeiro "Amén". Deve-se igualmente proceder e dizer este mandamento a Deus: "Meu Deus, você ordenou pedir e acreditar que o pedido seria ouvido. Consequentemente eu peço e confio que você não me abandonará e me dará uma fé correta".

Para isto deve-se pedir a vida inteira a Deus e Seus santos por uma fé correta para a última hora, como é cantado de maneira muito bonita no dia de Pentecostes: "Agora pedimos nós ao Espírito Santo por uma fé correta principalmente se nós partirmos deste exílio para nosso lar"9. E se a hora da morte chegou, deve-se lembrar Deus dessa oração, além de Sua lei e Sua promessa, sem duvidar em hipótese alguma que ela foi ouvida. Pois se Ele ordenou pedir e ter confiança na oração, e se além disso Ele deu a graça de pedir: por que deveria-se duvidar que Ele faz tudo porque Ele quer ouvir e cumprir?

Vigésimo. Agora veja, o que mais deve seu Deus lhe fazer, para que você aceite a morte de bom grado, não a tema e a vença? Ele indica e dá para você em Cristo a imagem da vida, da graça e da salvação, para que você não se assuste diante da imagem da morte, do pecado e do inferno. Ele afasta sua morte, seu pecado e o inferno colocando-os sobre seu amado Filho, os vence para você e os faz inofensivo para você. Adicionalmente Ele também deixa suas tribulações, causadas pela morte, o pecado e o inferno, agir sobre Seu Filho e te ensina a perseverar nisto e os faz inofensivos e suportáveis. Ele dá para você um confiável sinal de verdade para tudo isto, para que você não duvide disso, a saber, os santos sacramentos. Ele ordena Seus anjos, todos os santos e todas as criaturas, para que eles, juntamente com Ele, olhem por você, dêem atenção a sua alma e te recebam. Ele ordena que você deve pedir isto dele e estar certo da resposta. O que Ele pode ou deve mais fazer? Portanto veja que Ele é um verdadeiro Deus e realiza verdadeiras, grandes e divinas obras com você. Porque Ele não haveria de te impor algo grande, como é a morte, se Ele adiciona tão grande privilégio, ajuda e fortalecimento, para provar, o que sua graça é capaz, como no Salmo 111:2 está escrito: "As obras de Deus são grandes e escolhidas segundo toda Sua benevolência"?

Por isso deve-se observar para que se agradeça com grande paz do coração à sua vontade divina, por Ele exercitar em nós a graça e a misericórdia de forma tão maravilhosa, rica e imensurável contra a morte, o pecado e o inferno. Não se deve temer tanto a morte: deve-se apenas valorizar e amar Sua graça. Pois o amor e o louvor facilitam bastante o morrer; assim diz Deus através de Isaías: "Eu quero refrear sua boca com meu louvor, para que você não pereça" (Isaías 48:9). Que Deus nos ajude! Amén.

Notas

1 Lutero escreveu este livro em outubro de 1519, dedicado a Marcos Schart, conselheiro do príncipe eleitor da saxônia, Frederico, o Sábio. (c.f. Obras Selecionadas de Martinho Lutero, Volume 1, Editora Sinodal, página 385.)

2 Os antigos cristãos festejavam o aniversário da morte, pois acreditavam que o cristão aí nascia para a vida eterna.

3 Ölung, aqui se refere à extrema-unção. Ao escrever este sermão, Lutero ainda cria nos sete sacramentos da igreja Católica. Ainda não havia aderido à definição de Agostinho "acresça o verbo ao elemento, assim se torna sacramento", como depois define nos Artigos de Esmalcalde (III, V, 1). Em uma carta a Espalatino, de 18 de dezembro de 1519, demonstra ter mudado de opinião, quando diz que "só é sacramento o que é expressamente dado por uma promessa divina, exercitando nossa fé".

Em 1520, ao escrever seu livro Do cativeiro babilônico da Igreja, Lutero questiona também que a unção seja um sacramento. No entanto, Lutero não nega a eficácia desta unção, que ele entende ser aplicável a qualquer enfermo, não apenas aos que estão à beira da morte:

"Mais uma vez, não condeno esse nosso Sacramento, mas nego firmemente que seja o que o apóstolo Tiago prescreve, já que ele não concorda com o nosso nem na forma, nem no uso, nem na virtude, nem na finalidade. Não obstante, enumeramo-lo entre os sacramentos que nós constituímos, como a consagração do sal e da água e a aspersão. Pois não podemos negar que qualquer criatura seja santificada pela palavra e pela oração, o que o apóstolo Paulo nos ensina. Por isso, não negamos que pela Extrema-unção se dê perdão e paz, não porque o Sacramento tenha sido divinamente instituído, mas porque o que o recebe crê que assim lhe sucede. Pois a fé do que recebe não erra, por mais que erre o ministro". - Lutero, Do cativeiro babilônico da Igreja, Coleção obra prima de cada Autor, Editora Martin Claret.

4 Em alemão Schwitzbad. Muitos traduzem esta palavra aqui como arapuca, para usar uma expressão mais comum em português. Talvez Lutero quisesse aqui fazer uma ligação entre o transpirar da sauna com o transpirar de angústia pelo pecado.

5 Aqui, Lutero usa o verbo durfen, que é traduzido literalmente por poder, no sentido de ter permissão, ao invés de usar o verbo konnen, que tem o sentido de ter capacidade. Com isto, Lutero está dando a entender que aquele que procura descobrir os mistérios de Deus tem a petulância de ordenar a Deus o que Ele deve saber ou não, de se colocar acima de Deus.

6 No alemão "den Teufel nicht über die Türe male". Antigamente havia a superstição de que o diabo era convidado não só ao se pronunciar seu nome, mas também ao se pintar sua imagem. Aqui então Lutero previne seus leitores para não convidarem o diabo para dentro de suas casas. A Lutero é atribuída também a citação "Male den Teufel nicht an die Wand, er kommt von selber", ou, "Não pinte o diabo na parede, ele vem por si só". Atualmente a expressão alemã "Mal den Teufel nicht an die Wand!" é usada no sentido de "Evite problemas".

7 Lutero se refere aqui ao sinal da cruz.

8 cf. Hebreus 1.14

9 Esta música, chamada "Nun bitten wir den heiligen Geist", é uma das músicas sacras alemãs mais antiga. A primeira estrofe é cantada já no século 13, deixada por Berthold de Regensburgo (1220-1272), o maior pregador alemão do final da idade média, em seu sermão Von drin Lagen. Mais tarde Lutero adicionaria outras estrofes, cuja primeira versão impressa surge no ano 1524. Hoje em dia ela é cantada tanto por protestantes quanto por católicos, contudo com expressões diferentes. A versão portuguesa é encontrada no hinário Hinos do Povo de Deus, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.

Fonte: http://www.liederlexikon.de/lieder/nun_bitten_wir_den_heiligen_geist/

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