• Eu, porém, vos digo: Amai aos vossos inimigos, e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus; porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos.

    Mateus 5:44,45

  • Disse-lhes ele: Por causa da vossa pouca fé; pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar; e nada vos será impossível

    .

    Mateus 17:20

  • Qual de vós é o homem que, possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e não vai após a perdida até que a encontre?

    Lucas 15:4

  • Então ele te dará chuva para a tua semente, com que semeares a terra, e trigo como produto da terra, o qual será pingue e abundante. Naquele dia o teu gado pastará em largos pastos.

    Isaías 30:23

  • As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;

    João 10:27

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Sejam bem-vindos ao novo site e-cristianismo!! Nosso site foi recentemente invadido, então estamos trabalhando para recuperar o conteúdo. Esperamos terminar esta tarefa em breve.

Verso do dia

Como os Cristãos Deveriam Considerar Moisés?

Escrito por  Martinho Lutero
Os dez mandamentos

Meus caros amigos, vocês têm ouvido freqüentemente de que nunca houve um sermão público vindo diretamente do céu, com exceção de duas oportunidades. À parte deles, Deus falou muitas vezes com os homens na Terra, como no caso dos santos patriarcas Adão, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, e outros, até chegar a Moisés. Mas em nenhum desses casos ele falou com tal esplendor, visivelmente realidade, ou clamor e exclamação populares, como Ele fez naquelas duas ocasiões. Deus iluminava os seus corações e falava através das suas bocas, como Lucas indica no primeiro capítulo do seu evangelho onde diz, “assim como desde os tempos antigos tem anunciado pela boca dos seus santos profetas” (Lucas 1:70).

O primeiro sermão está em Êxodo, capítulos 19 e 20; através dele Deus se fez ser ouvido do céu com grande esplendor e poder. O povo de Israel ouviu o som das trombetas e a voz do próprio Deus.

Na segunda oportunidade, Deus entregou-lhes um sermão público através do Espírito Santo no Pentecostes (Atos 2:2-4). Naquela ocasião, o Espírito Santo veio com grande esplendor e visível expressão, tanto que do céu veio um súbito mover de um vento poderoso, que encheu completamente ta casa em que os apóstolos estavam reunidos. E então apareceram línguas de fogo, distribuídas e colocadas sobre cada um deles. E todos eles foram cheios do Espírito Santo e começaram a pregar e falar em outras línguas. Isto aconteceu com grande esplendor e poder glorioso, de maneira que posteriormente os apóstolos pregaram tão poderosamente que os sermões que nós ouvimos no mundo hoje são mais uma pequena sombra se comparado ao que eles pregaram, tal era o visível esplendor e a substância dos seus sermões. Os apóstolos falavam em todo tipo de línguas e realizavam grandes milagres, etc. Hoje, através dos nossos pregadores, o Espírito Santo não se faz ser visto ou ouvido. Nada está descendo abertamente do céu. É por isso que eu digo que há apenas dois sermões públicos especiais que foram vistos e ouvidos diretamente do céu. Ainda há o momento em que Deus falou diretamente a Cristo, desde os céus, quando ele foi batizado no Jordão (Mateus 3:17), e o momento da Transfiguração no Monte Tabor (Mateus 17:5). Entretanto, nenhum desses momentos aconteceu na presença do público em geral.

Deus queria enviar aquele segundo sermão ao mundo, que antes já havia sido anunciado pela boca e pelos livros dos santos profetas. Ele não mais falará daquela maneira, publicamente, através dos sermões. Em vez disso, como uma terceira oportunidade, Ele virá em pessoa com glória divina, de tal maneira que todas as criaturas estremecerão diante dele (Lucas 21:25-27); e então Ele não mais pregará para eles, mas eles o verão e tocarão a Ele mesmo (Lucas 24:39).

O primeiro sermão, e a doutrina, é a Lei de Deus. O segundo é o evangelho. Esses dois sermões não são a mesma coisa. Portanto, nós devemos ser capazes de entender e apreender bem a questão para que possamos saber como diferenciá-los. Nós precisamos conhecer o que a Lei é, e o que é o Evangelho. A Lei ordena e requer que façamos determinadas coisas. A Lei é, portanto, dirigida unicamente ao nosso comportamento e consiste em fazer exigências, pois Deus fala através dela, dizendo, “Faça isso, evite aquilo, é isto o que Eu espero de você”. O Evangelho, entretanto, não prega aquilo que nós temos que fazer ou evitar. Ele não provê exigências, mas inverte a abordagem da Lei, faz exatamente o oposto, e diz, “Isto é o que Deus fez por você; Ele permitiu que o Seu Filho se fizesse carne por você, e deixou-O ser sacrificado no seu lugar”. Então, há dois tipos de doutrinas e dois tipos de obras, aquelas de Deus e aquelas dos homens. Da mesma maneira como nós e Deus estamos separados uns do Outro, essas duas doutrinas estão amplamente separadas uma da outra, pois o Evangelho ensina exclusivamente o que nos foi dado por Deus, e não – como no caso da Lei – o que nós devemos fazer e dar a Deus.

Agora, nós queremos ver como este primeiro sermão ressoou tão fortemente e com que esplendor Deus deu a Lei no Monte Sinai. Ele escolheu o lugar onde Ele queria ser visto e ouvido. Isto não significa que Deus realmente fale, pois Ele não tem boca, língua, dentes ou lábios como nós temos. Entretanto, foi Ele quem criou e formou a boca de todos os homens (Êxodo 4:11), e por isso pode também discursar e ter voz. Nenhum de nós seria capaz de falar uma única palavra a não ser que Deus primeiramente no-la desse, como diz o profeta, “porventura poderei eu agora, de mim mesmo, falar alguma coisa? A palavra que Deus puser na minha boca, essa falarei” (Números 22:38). Idioma, linguagem, discurso e voz são, portanto, dons de Deus como quaisquer outros dons, como os frutos que pendem das árvores. Aquele que desenhou a boca e nela pôs o discurso, também pode fazer e usar um discurso mesmo que não haja nenhuma boca presente. As palavras que ali estão escritas foram ditas através de um anjo. Isto não quer dizer que somente um anjo estava ali, mas que havia uma grande multidão deles servindo a Deus e pregando ao povo de Israel no Monte Sinai. O anjo, entretanto, que ali falava e conversava, falou exatamente como se fosse o próprio Deus falando e dizendo, “Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”, etc. (Êxodo 20:1, etc.), como se Pedro ou Paulo estivessem falando no lugar de Deus e dizendo, “Eu sou o seu Deus”, etc. Na sua carta aos Gálatas (3:19), Paulo diz que a Lei foi ordenada por meio de anjos. Isto significa que os anjos foram comissionados, em nome de Deus, a dar a Lei de Deus; e Moisés, como um mediador, recebeu-a dos anjos. Digo isso para que vocês percebam quem é que deu a Lei. Ele fez isso através dos anjos, porque Ele queria, através deles, compelir, forçar e pressionar os judeus.

Que tipo de voz era aquela, vocês podem muito bem imaginar. Era uma voz como a voz de um homem, tal como de fato a podemos ouvir. As sílabas e letras produziam sons que o ouvido físico era capaz de escutar. Era uma voz grande, ressonante, gloriosa. Como escrito em Deuteronômio 4:12, o povo ouvia a voz, mas não viam ninguém. Eles ouviram uma voz poderosa, pois Ele falava com uma voz poderosa, como se na escuridão nós ouvíssemos uma voz que vem de uma torre alta ou de cima de um telhado, e não pudéssemos ver ninguém mas somente ouvíssemos a voz forte de um homem. E é por isso que aquela se chama a voz de Deus, pois estava acima do que uma voz humana pode alcançar.

Agora vocês ouvirão como Deus usou a Sua voz para levanter o seu povo e fazê-los corajosos, pois Ele pretendia instituir um governo espiritual tangível. Foi previamente afirmado como, seguindo o conselho de Jetro, seu sogro, Moisés tinha estabelecido um governo temporal e apontado árbitros e juízes (Êxodo 18:13-26). Além disso, há ainda um reino espiritual no qual Cristo arbitra nos corações dos homens, este reino nós não podemos ver, porque ele consiste unicamente de fé e persistirá até o Dia Final.

Há, então, dois reinos: o temporal, que governa através da espada e é visível; e o espiritual, que governa unicamente através da graça e com o perdão dos pecados. Entre esses dois reinos existe ainda outro que foi colocado no meio-termo, sendo metade espiritual e metade temporal. Ele é constituído pelos Judeus, com mandamentos e festas cerimoniais que determinam a sua conduta em relação a Deus e aos outros homens.

A Lei de Moisés Obriga Apenas os Judeus e não os Gentios

Aqui a Lei de Moisés toma o seu lugar. Ela não é mais obrigatória para nós porque ela foi dada unicamente ao povo de Israel. E Israel aceitou esta Lei para si mesmo e seus descendentes, enquanto os gentios foram excluídos. De fato, os gentios têm certas leis em comum com os judeus, tais como: há somente um Deus, ninguém deve lesar o seu próximo, ninguém deve cometer adultério, ou assassinar ou roubar, e outros desse tipo. Isto é escrito pela natureza nos seus corações; eles não ouviram isso direto do céu como aconteceu com os judeus. É por isso que esse inteiro texto não pertence aos gentios. E digo isto por conta dos entusiastas, pois vocês têm visto e ouvido como eles lêem Moisés, como o exaltam, e ressuscitam a maneira como ele comandava o povo com mandamentos. Eles tentam ser espertos, e alegam que eles sabem de mais coisas do que aquelas que são apresentadas nos Evangelhos; então eles minimizam a fé, inventam algo novo, e arrogantemente proclamam que isso veio do Antigo Testamento. Eles desejam governar as pessoas de acordo com a letra da Lei de Moisés, como se ninguém a tivesse lido antes.

Nós, entretanto, não faremos esse tipo de coisa. Nós preferiríamos não pregar nunca mais pelo resto de nossas vidas do que permitir que Moisés voltasse e Cristo fosse eliminado dos nossos corações. Nós não temos mais Moisés como juiz ou legislador. De fato, o próprio Deus também não o tem mais dessa maneira. Moisés foi um mediador, um intermediário, unicamente para o povo judeu. Foi a eles que ele deu a Lei. Precisamos, portanto, calar as bocas daqueles espíritos facciosos que dizem, “Assim diz Moisés”, etc. Nessa situação, você deve responder tão-somente: Moisés não tem nada a ver conosco. Se eu tivesse que aceitar Moisés em um só mandamento, eu teria que aceitar Moisés por inteiro. Portanto, a conseqüência seria que eu deveria aceitar Moisés como um Mestre, então eu preciso me submeter à circuncisão, lavar as minhas roupas à maneira judaica, comer, beber e vestir isto e aquilo, e observar todas aquelas coisas. Portanto, nós não temos que seguir ou aceitar Moisés. Moisés está morto. O seu comando acabou quando Cristo veio. Ele não serve para mais nada.

O fato de que Moisés não comanda os gentios pode ser provado por Êxodo 20:1, onde o próprio Deus afirma, “Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”. Esse texto deixa claro que mesmo os Dez Mandamentos não pertencem a nós, pois Deus nunca nos tirou do Egito, mas somente os judeus. Os espíritos sectários querem sobrecarregar-nos com Moisés e todos os mandamentos. Nós simplesmente ignoramos isso. Nós consideramos Moisés como um professor, mas jamais o teremos como nosso legislador – a não ser que ele concorde com ambos o Novo Testamento e a lei natural. Portanto, está suficiente claro que Moisés é o legislador dos judeus e não dos gentios. Ele deu aos judeus um sinal pelo qual eles deveriam manter-se ligados a Deus, quando eles O chamava m como o Deus que os havia trazido do Egito. Os cristãos têm um sinal diferente, pelo qual eles concebem Deus como Aquele que deu Seu Filho, etc.

Novamente, alguém pode comprovar pelo próprio quarto mandamento que Moisés não o dirige aos gentios e cristãos. Paulo (Col. 2:16) e o Novo Testamento (Mateus 12:1-12; João 5:16; 7:22-23; 9:14-16) abolem o sábado, para mostrar-nos que o sábado havia sido dado apenas aos judeus, para os quais é um rígido mandamento. Os profetas se referiram a isto também, dizendo que o sábado dos judeus seria abolido. Isaías diz no seu último capítulo, “e acontecerá que desde uma lua nova até a outra, e desde um sábado até o outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor”, etc. (Isaías 66:23). É como se aqui ele estivesse tentando dizer, “será como se fosse sábado todos os dias, e as pessoas serão tais que não farão nenhuma distinção entre os dias. E no Novo Testamento o sábado é aniquilado como uma observância externa crua, pois todo dia é um dia santo”, etc.

Agora, se alguém confrontá-lo com Moisés e seus mandamentos, e quiser compeli-lo a guardá-los, simplesmente responda: “Vá aos judeus com o seu Moisés, eu não sou judeu. Não me obrigue a seguir Moisés. Se eu aceitasse Moisés num só ponto (Paulo diz aos gálatas no capítulo 5:3), então eu estaria obrigado a guardar TODA a lei”. Logo, nenhum parágrafo de Moisés pertence a nós.

Pergunta : Por que, então, você prega sobre Moisés se ele não pertence a nós?

Resposta : Três coisas devem ser notadas em Moisés.

Eu quero conservar Moisés e não varrê-lo para debaixo do tapete, porque eu encontro três coisas nele.

Em primeiro lugar, eu dispenso os mandamentos dados ao povo de Israel. Eles não me obrigam ou compelem a nada. Eles estão mortos e desaparecidos, exceto se eu alegre e voluntariamente aceitar alguma coisa de Moisés, como eu disse antes: “É assim que Moisés ordenava, e parece bom para mim, então eu o seguirei nesse ou naquele particular”.

Eu ficaria, inclusive, feliz se os senhores de hoje comandassem de acordo com o exemplo de Moisés. Se eu fosse imperador, eu extrairia de Moisés um modelo para as minhas leis; não que Moisés estaria me obrigando a nada, mas eu seria livre para segui-lo, comandando como ele comandava. Por exemplo, o dízimo é uma regra muito boa, porque através da oferta do dízimo todas os outros impostos seriam eliminados. Para o homem comum seria também mais fácil dar um décimo do que pagar aluguéis e taxas. Suponha que eu tenha dez vacas; eu então pagaria uma. Se eu tivesse somente cinco, eu não pagaria nada. Se a minha lavoura estivesse produzindo somente um pouco, eu pagaria pouco proporcionalmente; se muito, eu pagaria muito. Tudo isso seria de acordo com a providência divina. Entretanto, da maneira como as coisas são hoje, eu devo pagar a taxa gentia mesmo que o granizo arruinasse com toda a minha colheita. Se eu devo cem galões em impostos, eu devo pagá-los mesmo que não exista nada crescendo no campo. É dessa mesma maneira que o papa decreta e governa. Mas seria melhor se as coisas fossem arranjadas de modo que quando eu colho muito, eu dou muito; e quando pouco, eu dou pouco.

Moisés estipula, também, que nenhum homem poderia vender seu campo como estatuto perpétuo, mas somente até o ano do jubileu (Levítico 25:8-55). Quando esse ano chegasse, ele retornaria ao campo ou às propriedades que ele tinha vendido. Desta maneira, as propriedades permaneceriam na esfera da família. Há também outras regras extraordinariamente boas em Moisés que as pessoas gostariam de aceitar, usar e pô-las em validade. Não que alguém deveria obrigar-se ou ser obrigada por elas, mas (como eu disse anteriormente), o imperador podia tomar este exemplo para estabelecer um bom governo com base em Moisés, assim como os romanos conduziram um bom governo, e a Sachsenspiegel [lei alemã do séc. XIII] fez o mesmo na nossa terra. Os gentios não estão obrigados a obedecer Moisés. Moisés é a Sachsenspiegel dos judeus. Entretanto, se um exemplo de bom governo puder ser extraído de Moisés, as pessoas poderiam aderir a ele sem obrigação, mas por admirar e ter prazer no que ele estatuiu.

Moisés também diz, “Se irmãos morarem juntos, e um deles morrer sem deixar filho, a mulher do falecido não se casará com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a tomará por mulher, fazendo a obrigação de cunhado para com ela. E o primogênito que ela lhe der sucederá ao nome do irmão falecido, para que o nome deste não se apague de Israel” (Deuteronômio 25:5-6). Isto acontecia porque um homem tinha muitas viúvas. Mesmo agora, esta é uma regra muito boa.

Quando esses espíritos facciosos chegam, entretanto, e dizem, “Moisés ordenou isto”, simplesmente rejeite Moisés e responda, “Eu não estou preocupado com o que Moisés ordena”. “Sim”, eles dizem, “ele ordenou que nós deveríamos ter um Deus, que deveríamos confiar e crer nEle, que não deveríamos jurar pelo Seu nome; que nós deveríamos honrar pai e mãe; não matar, roubar, cometer adultério, não dar falso testemunho, e não cobiçar (Êxodo 20:3-17); nós não deveríamos guardar esses mandamentos?”. Você pode responder: a Natureza também tem essas leis. A Natureza provê aquilo que podemos invocar de Deus. Os gentios atestam este fato, pois nunca houve um gentio que não invocasse os seus ídolos, mesmo que eles não fossem o verdadeiro Deus. Isto também aconteceu entre os judeus, pois eles tiveram os seus ídolos como os gentios; apenas os judeus receberam a Lei. Os gentios a têm escritas nos seus corações, e não há distinção (Rom. 3:22). Como São Paulo também mostra em Romanos 2:14-15, os gentios, que não têm Lei, têm a Lei escrita nos seus corações.

Entretanto, os gentios falham da mesma maneira como os judeus falham. Portanto, é natural honrar a Deus, não roubar, não cometer adultério, não dar falso testemunho, não matar; e o que Moisés ordena não é nada de novo. Aquilo que Deus deu aos judeus, diretamente dos céus, ele também escreveu nos corações de todos os homens. Portanto, se eu guardo os mandamentos que Moisés deu, não o faço porque Moisés os deu, mas porque eles estão implantados em mim pela Natureza, e Moisés concorda exatamente com a Natureza, etc. Os outros mandamentos de Moisés, que não estão implantados em todos os homens pela Natureza, os gentios não obedecem. Nem eles pertencem aos gentios, tais como o dízimo e outros igualmente bons que eu gostaria que nós tivéssemos também. Agora, esta é a primeira coisa que eu gostaria de ver em Moisés, nominalmente, os mandamentos aos quais eu não estou obrigado, exceto se eles estão implantados em todo mundo pela natureza e estão escritos em todos os corações.

A segunda coisa a notar em Moisés

Em segundo lugar, eu encontro algo em Moisés que eu não recebo através da natureza: as promessas e garantias de Deus a respeito de Cristo.

Esta é a melhor parte. É algo que não está escrito naturalmente nos corações, mas vem dos céus. Deus prometeu, por exemplo, que o Seu Filho nasceria em carne. É isto o que o Evangelho proclama. Não se trata de mandamento. E é esta a coisa mais importante em Moisés que nos pertence. A primeira coisa, ou seja, os mandamentos, não pertence a nós. Eu leio Moisés porque essas excelentes e confortadoras promessas estão lá registradas, pelas quais eu posso obter força para a minha enfraquecida fé. As coisas aconteceram no reino de Cristo exatamente como eu havia lido em Moisés que elas aconteceriam; e é lá, também, que eu encontro meus sólidos fundamentos.

Desta maneira, portanto, eu deveria aceitar Moisés, e não varrê-lo para debaixo do tapete: primeiro porque ele provê bons exemplos de leis, das quais alguns excertos podem ser extraídos. Segundo, em Moisés encontramos promessas de Deus que sustentam a fé. Como está escrito sobre Eva em Gênesis 3:15, “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”, etc. E quando Abraão recebe a promessa de Deus, que diz em Gênesis 22:18, “em tua descendência serão benditas todas as nações da terra”, ou seja, através de Cristo o Evangelho está parar revelar-se.

Em Deuteronômio 18:15-16, Moisés diz: “O Senhor teu Deus te suscitará do meio de ti, dentre teus irmãos, um profeta semelhante a mim; a ele ouvirás; conforme tudo o que pediste ao Senhor teu Deus em Horebe, no dia da assembléia”, etc. Muitos são esses textos do Velho Testamento, os quais os santos apóstolos citaram e desenvolveram.

Mas os nossos espíritos facciosos vão adiante e dizem de tudo o que eles encontram em Moisés, “Aqui Deus está falando, ninguém pode negá-lo; portanto devemos obedecê-lo”. Então a multidão ignorante os segue. Caramba! Se Deus tivesse dito isto, quem então diria qualquer coisa contra isto? Então eles são realmente pressionados como porcos no cocho. Nossos queridos profetas falaram, então, às mentes do povo, “Querido povo, Deus ordenou ao seu povo a massacrar Amaleque até a morte” (Êxodo 17:8-16; Deuteronômio 25:17-19). Miséria e tribulação foram o resultado desse tipo de coisa. Os camponeses se levantaram, sem saber a diferença, e foram levados a este erro para aqueles espíritos facciosos insanos. [ Nota : Lutero refere-se aqui a Thomas Munzer que usou essas referências num sermão em Allstedt em julho de 1524, para incitar o massacre de todos os ímpios, fossem eles ateus, nobres ou monges, no que ficou conhecido como “Guerra dos Camponeses”, que resultou em 100.000 mortes ]

Houvesse pregadores devidamente educados ao redor, eles poderiam ter resistido aos falsos profetas e teriam-nos impedido, e dito isto a eles, “Caros espíritos facciosos, é verdade que Deus ordenou isso a Moisés e falou ao povo; mas nós não somos aquele povo. Deus falou também a Adão; mas isto não me torna Adão; Deus ordenou que Abraão sacrificasse seu filho (Gênesis 22:2); mas isto não me faz Abraão nem me obriga a sacrificar meu filho. Deus falou também a Davi. Está tudo na palavra de Deus. Mas deixemos que a palavra de Deus seja o que ela é, eu devo prestar atenção e verificar a quem a palavra de Deus é dirigida. Você está ainda a uma enorme distância do povo para quem Deus falou”. Os falsos profetas dizem, “Você é aquele povo, Deus está falando a você”. Você precisa provar isso para mim. Com conversas como essas, esses espíritos facciosos podem ser refutados. Mas eles queriam ser massacrados, e assim a multidão ignorante acabou nas garras do diabo.

As pessoas precisam lidar limpamente com as Escrituras. Desde o princípio a palavra nos vem de várias maneiras. Não é suficiente simplesmente olhar e ver se é a palavra de Deus, se Deus disse isso; nós precisamos olhar e ver para quem ela foi dirigida, e se isso é apropriado para nós. Isto faz toda a diferença entre noite e dia. Deus disse a Davi, “De você me virá o rei”, etc. (2 Samuel 7:13). Mas isso não pertence a mim, nem foi dirigido a mim. De fato, Ele pode falar comigo se Ele escolher fazer isso. Você precisa colocar o seu olho na palavra que se aplica a você, que é dirigida a você.

A palavra nas Escrituras tem dois tipos: o primeiro não pertence ou se aplica a mim, o outro tipo, sim. E é sobre aquela palavra que, de fato, pertence a mim, que eu posso confiar e nela descansar completamente, como se estivesse sobre uma forte rocha. Mas se ela não pertence a mim, então eu devo manter-me no meu lugar. Os falsos profetas se lançam e dizem, “Querido povo, esta é a palavra de Deus”. Isto é verdade, nós não podemos negá-lo. Mas nós não somos “o povo”. Deus não nos deu esta diretiva. Os espíritos facciosos chegam e levantam algo novo, dizendo, “Nós precisamos guardar o Velho Testamento também”. Então eles levam os leigos a uma ansiedade doentia e arruínam-nos juntamente com mulher e filhos. Essas pessoas insanas imaginavam que isto tinha sido imprevisto por elas, que ninguém lhes havia dito que pessoas poderiam morrer. Isso lhes cai bem. Eles não seguiriam ou ouviriam a ninguém. Eu sei por experiência própria o quanto eles eram maus, delirantes e insensíveis.

Então diga isto Moisés: Deixe Moisés junto com o seu povo; eles já tiveram o seu dia e não pertencem a mim. Eu ouço a palavra que se aplica a mim. Nós temos o evangelho. Cristo diz, “Ide e pregai o evangelho”, não somente aos judeus como Moisés fez, mas a “todas as nações”, e a “todas as criaturas” (Marcos 16:15). A mim me é dito, “Aquele que crer e for batizado será salvo” (Marcos 16:16). E, ainda, “tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós a eles; porque esta é a lei e os profetas” (Mateus 7:12). Essas palavras me atingem também, porque eu sou uma de “todas as criaturas”. Se Cristo não tivesse acrescentado, “pregai a todas as criaturas”, então eu não teria ouvido, não teria sido batizado, da mesma maneira como agora não ouvirei a Moisés porque não ele não foi dado a mim, mas aos judeus. Entretanto, já que Cristo diz: não a um único povo, nem neste ou naquele lugar do mundo, mas a “todas as criaturas”, logo ninguém está isento. Estão todos incluídos; ninguém deveria duvidar de que o evangelho deve ser pregado a ele também. E é assim que eu creio naquela palavra; ela também pertence a mim. Eu pertenço também ao evangelho, na nova aliança. Portanto, eu coloco minha fé naquela palavra, mesmo se isso me custasse cem mil vidas.

Esta distinção deve ser notada, agarrada, e absorvida no coração por aqueles pregadores que querem ensinar a outros; de fato por todos os cristãos, porque tudo depende inteiramente disso. Se os camponeses tivessem compreendido isso, eles teriam salvo muito e não teriam sido tão piedosamente enganados e arruinados. E onde nós entendemos isso diferentemente, onde nós construímos seitas e facções, escravizando aqueles dentre a multidão ignara e as pessoas delirantes e incompreensíveis, sem nenhuma distinção, dizendo “Palavra de Deus, palavra de Deus”. Mas, meu caro companheiro, a questão é se isto é dito a você. Deus realmente fala também aos anjos, à madeira, aos peixes, pássaros, animais, e a todas as criaturas, mas isso não pertence a mim. Eu devo observar atentamente aquilo que se aplica a mim, que é dito a mim, aquilo em que Deus me adverte, dirige e exige algo de mim.

Proponho-lhes uma ilustração. Suponhamos que um pai de família tenha uma esposa, uma filha, um filho, uma empregada e um empregado. Então ele manda o empregado pegar os cavalos e trazer um carregamento de madeira, ou arar o terreno, ou fazer outro trabalho. Suponhamos que ele mande a empregada ordenhar as vacas, bater um pouco de manteiga, e daí por diante. Suponhamos que ele diga à sua mulher para ela tomar conta da cozinha e à sua filha para fazer alguma limpeza e arrumar as camas. Tudo isso seriam palavras de um senhor, um pai de família. Suponhamos, então, que a empregada decida que ela gostaria de levar os cavalos pra pegar madeira, o empregado se sente para ordenhar as vacas, a filha queira pegar a carroça ou arar o campo, a esposa se encarregue das camas e da limpeza e se esqueça da cozinha; e todos eles dizem, “o senhor ordenou isso, estas são as ordens do pai de família!”. Então, o quê? Então o senhor pegaria um porrete e lhes aplicaria uma surra, dizendo “Muito embora essas tenham sido as minhas ordens, o fato é que eu não ordenei isso a você; Eu dei instruções específicas a cada um, e vocês deveriam tê-las respeitado”.

O mesmo acontece com a palavra de Deus. Suponhamos que eu tome para mim algo que Deus ordenou que outra pessoa fizesse, e então eu declaro, “Mas o senhor disse para eu fazer isto”. Deus responderia, “Deixe que o diabo te agradeça; eu não te disse para fazer isto”. As pessoas precisam distinguir bem se a palavra pertence a somente uma pessoa ou a todo mundo. Se, agora, o pai de família dissesse, “Na sexta-feira nós vamos comer carne”, esta seria uma palavra comum a todos da casa. Logo, aquilo que Deus disse a Moisés por meio de mandamentos destina-se somente aos judeus. Por outro lado, o evangelho espalha-se e destina-se a todo mundo na sua inteireza, é oferecido a todas as criaturas sem exceção. Portanto, todo o mundo deveria aceitá-lo, e aceitá-lo como se tivesse sido oferecido a cada pessoa individualmente. A palavra “Devemos amar-nos uns aos outros” (João 15:12), pertence a mim, assim como pertence a todos que pertencem ao evangelho. Se lemos Moisés, não é porque ele se aplique a nós, que nós devemos obedecê-lo, mas porque ele concorda com a lei natural e é entendido melhor do que os gentios poderiam ser capazes de fazê-lo. Os Dez Mandamentos são um espelho da nossa vida, na qual nós podemos ver o que eventualmente está faltando, etc. Os espíritos sectários entenderam mal também com respeito às imagens; porque isso pertence somente aos judeus.

Resumindo esta segunda parte, nós lemos Moisés por causa das promessas sobre Cristo, que pertence não somente aos judeus, mas também aos gentios; pois através de Cristo todos os gentios seriam abençoados, como foi prometido a Abraão (Gênesis 12:3).

A terceira coisa a ser observada em Moisés

Em terceiro lugar, nós lemos Moisés por causa dos belos exemplos de fé, amor, e por causa da cruz, como mostrado nos pais, Adão, Abel, Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés e todos os demais. Deles nós deveríamos aprender a confiar em Deus e amá-lO. Por outro lado, há também exemplos dos ímpios, de como Deus não perdoa a descrença dos não crentes; como Ele pode punir Caim, Ismael, Esaú, o mundo inteiro num dilúvio, Sodoma e Gomorra, etc. Exemplos como esses são necessários, pois embora eu não seja Caim, ainda que eu agisse como Caim, eu receberia a mesma punição que Caim recebeu. Em nenhum lugar nós podemos encontrar tais bons exemplos tanto de fé como de descrença. Portanto, nós não devemos varrer Moisés para debaixo do tapete. Além disso, o Velho Testamento é melhor compreendido quando nós retemos dos profetas os belos textos sobre Cristo, quando nós observamos e nos agarramos aos bons exemplos, e quando nós usamos as leis que nos foram dadas em nosso favor.

Conclusão e Sumário

Eu afirmei que todos os cristãos, e especialmente aqueles que manejam a palavra de Deus e tentam ensinar aos outros, deveriam ter cautela e entender Moisés corretamente. Onde ele dá os mandamentos, nós não temos que segui-los a não ser que eles concordem com a lei natural. Moisés é um professor e doutor dos judeus. Nós temos o nosso próprio Mestre, Cristo, e é diante dEle que temos que conhecer, observar, fazer e deixar de fazer. Entretanto, é verdade que Moisés estabelece, em adição às leis, belos exemplos de fé e descrença – punição dos ímpios, elevação dos justos e crentes – e também as caras e confortadoras promessas a respeito de Cristo que nós devemos aceitar. O mesmo é verdade também no evangelho. Por exemplo, no relato dos dez leprosos, aquilo que Cristo exigiu deles , que fossem ao sacerdote e fizessem o sacrifício (Lucas 17:14) não pertence a mim. O exemplo de sua fé, entretanto, não pertence a mim; eu deveria crer em Cristo, como eles também fizeram.

Já disse o suficiente sobre isto, e quero que seja bem notado de que isto é realmente crucial. Muitas pessoas boas e excelentes perderam isso, ainda que mesmo hoje muitos grandes pregadores ainda tropecem nesse ponto. Eles não sabem como pregar Moisés, nem como considerar adequadamente os seus livros. Eles são absurdos quando gritam e espumam, dizendo ao povo, “Palavra de Deus, palavra de Deus!”. Fazendo assim, eles enganam o seu pobre povo e os levam à destruição. Muitos homens instruídos não sabem ainda até que ponto Moisés deveria ser ensinado. Orígenes, Jerônimo, e outros como eles, não mostraram claramente o quanto realmente Moisés pode servir-nos. E é por isso que eu tentei prelecionar uma introdução a Moisés, como nós deveríamos considerá-lo, e como ele poderia ser compreendido e recebido e não simplesmente varrido para debaixo do tapete. Em Moisés está intrínseca uma bela ordem, que é a alegria.

Deus seja louvado!

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